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Você embarcaria num filme dirigido por um cara que passou a última década inteira fissurado nas animações com captura de movimentos, como Os Fantasmas de Scrooge e A Lenda de Beowulff? Necas? E se soubesse que o protagonista de agora é Denzel Washington e que a história, nada animada, vai te capturar do início ao fim? Partiu? Então se prepare para O Voo!
Whip vive no limite. Espremido entre as escalas diante do manche das aeronaves, a pressão da ex-mulher, do filho e ainda uma relação doentia com os aditivos que o tiram do sério para fugir da real, não é preciso ser vidente para descobrir que no painel do seu "aeroporto pessoal", o inferno era um destino iminente. Depois de salvar dezenas de pessoas durante um voo fatídico e uma aterrisagem impressionante, a morte de seis pessoas dá início ao famigerado jogo de empurra na busca por um culpado e a coisa complica para o lado dele. Motivo? Após um exame de sangue, descobriram vestígios de cocaína e álcool, usados horas antes do acidente. Bum! De herói para vilão num piscar de olhos. Começa então a via crucis de um homem que sabe mentir, mente melhor para si mesmo (há tempos), mas percebe que a verdade vem apresentando a conta.
Dirigido por Robert Zemeckis e escrito por John Gatins (Gigantes de Aço), o roteiro não procura taxiar na apresentação dos personagens, como revela a curta e grossa sequência inicial, regada a sexo, drogas e bebida. E nas cenas seguintes, diálogos inspirados vazam críticas para as companhias aéreas, sindicatos, indústria farmacêutica e até Deus, uma vez que Whip sempre questiona a fé e, longe de ser coincidência, bateu numa torre de igreja durante o pouso forçado e só parou num cemitério, cheio de cruzes. Para aumentar a bagagem dramática e carimbar de vez o passaporte do espectador, ele conhece uma mulher (Kelly Reilly) dentro do hospital em situação de dependência semelhante, e logo uma paixão se inicia com vista para a redenção. Se ela vai acontecer ou não, são outros quinhentos.
Um dos grandes baratos desse O Voo é a capacidade que a trama e a levada do cineasta têm de deixar você numa eterna zona de turbulência, com alto grau de tensão e suspense ao redor do personagem, seja o momento dentro de um tribunal ou na solidão de um sofá bolorento. Aí, entra a boa atuação de Washington, indicado ao Oscar e outros prêmios, e de gente como Don Cheadle e John Goodman, impagável como um amigo/traficante sempre pronto para "ligar" seu cliente VIP. Para os que esperam cinema de ação, a sequência do acidente é ótima, mas é o cinema de envolvimento que assume o controle, prendendo você, sonoramente acompanhado de Red Hot Chili Peppers, Beatles, Marvin Gaye e Rolling Stones, com uma emblemática "Sympathy For The Devil". No corredor das citações, o cultuado seriado House com o herói (?) usando hidrocodona e bengala. Será? Na janela dos destaques, duas bonitas cenas de pai para filho e uma - já antológica - do motor de um frigobar chamando por sua "vítima", uma verdadeira criança diante das garrafinhas de dose. Muito boa. Assim, seja bem-vindo a bordo de um longa-metragem que soube ser imprevisível e só não levou cinco estrelas porque quando o mais previsível seria manter essa rota turbulenta, optou por uma aterrisagem mais segura e quase piegas.
Trailer
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Fonte: www.adorocinema.com, através de Roberto Cunha.
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