Filippo Pucillo, o garoto siciliano nascido em 1989 que cresceu fazendo filmes do diretor Emanuele Crialese, como Respiro e Novo Mundo, revelou-se na maioridade ser um péssimo ator, porém, sua forma de atuar acabou combinando com Terraferma, quarto filme de Crialese e candidato italiano ao Oscar 2012 de Melhor Filme Estrangeiro.
A atuação de Filippo no filme é próxima daquela dos atores amadores que no neorrealismo desempenhavam papéis que se confundiam com suas realidades, como os pescadores de A Terra Treme, clássico de 1948 de Luchino Visconti cujas similaridades com Terraferma não ficam somente na rima. Ambos os filmes tratam da comunidade pesqueira na Sicília, e em 60 anos as dificuldades de subsistência da região só ficaram mais complexas.
No filme de Visconti, o viés de esquerda tinha uma base marxista, os pescadores precisam se unir contra os vendedores que depreciam seu produto e menosprezam seu trabalho. Já no filme de Crialese, ele lida com uma realidade diferente, metade da família de Filippo (Filippo Pucillo), acaba aderindo ao desapego, suas casas viram pousadas de veraneio e seus barcos, trampolins com caixas de som para os turistas. Apenas o avô de Filippo ainda acredita no lado comunal da pesca, e ele arruma problemas com a lei, um dia, ao recolher do mar um dos muitos grupos de africanos ilegais que buscam na Itália uma nova vida.
O viés de esquerda de Crialese, portanto, tem um fundo humanista, mas ele não se esquiva de fazer comentários sobre os resquícios de coletividade num mundo, agora, regido pela lógica do indivíduo, como na cena da reunião dos pescadores, em que a câmera faz zooms constantes para partir do pessoal e englobar a comunidade.
Sendo característica do diretor, algumas composições de quadro são belíssimas (os pescadores à sombra do barco, o balé submerso dos turistas, a sombra do labor na caverna) e outras pesam a mão no sentimentalismo. Em comparação com os melhores Respiro e Novo Mundo, Terraferma parece mesmo trocar um pouco a sutileza pela retórica, mas como o filme instituiu, no princípio, um diálogo com essa tradição de engajamento do neorrealismo, talvez a guinada discursiva de Crialese seja mesmo proposital.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: http://veja.abril.com.br e http://omelete.uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário