Nas três primeiras semanas de julho, a Sala Redenção – Cinema Universitário dedica sua programação a um dos períodos mais ricos em influências da cinematografia mundial: o expressionismo alemão*. Não é uma tarefa fácil delimitar o que vem a ser uma cinematografia expressionista, já que não se trata de uma definição baseada em padrões estéticos rigorosos. A arte expressionista teve influência, como o próprio nome sugere, da pintura. No campo do cinema, o expressionismo alemão teve seu apogeu após a primeira guerra mundial. A Alemanha saia da guerra, além de enfraquecida e completamente empobrecida, humilhada e ressentida. E é dentro deste quadro que sofrerá influência do Expressionismo, um movimento artístico moderno que se contrapõe ao Realismo do século XIX. Tal movimento artístico é influenciado por várias vertentes das artes, que davam vazão ao mundo interior do artista, aos estados da alma e seus tormentos. Dessa forma, o cinema do expressionismo alemão trará como temática justamente a loucura, a angústia, o sobrenatural, a monstruosidade, o grotesco. Quanto ao estilo cinematográfico, o expressionismo alemão é saliente, mas baseado praticamente na mise-en-scène: a cenografia é estilizada, distorcida (a deformação da perspectiva); a interpretação é não naturalista, exagerada, grotesca e teatralizada; a iluminação é trabalhada e com grandes contrastes. Ao contrário do cinema soviético (com sua ênfase na montagem), no cinema expressionista a montagem e a câmera são até certo ponto neutras para não interferir no privilégio dado à mise-en-scène. Os principais cineastas deste período são: F. W. Murnau, Fritz Lang, Paul Leni, entre outros. O gabinete do Dr. Caligari (1921), de Robert Wiene é considerado uma das obras-primas do expressionismo alemão. Um dado importante é que o cinema alemão do período é geralmente apontado como o “carro chefe” cultural da instável República Weimar (1919-1933) e, por isso, uma das fontes preparadoras do nazismo, adquirindo em função disso uma ambígua reputação. É preciso, entretanto, salientar que vários cineastas, atores, e técnicos alemães foram obrigados a buscar asilo em outros países justamente no período do apogeu do movimento nazista. Com isso, as influências “expressionistas” se espalharam em diferentes pontos do mundo, principalmente nos Estados Unidos. Em nossa mostra, exibiremos filmes de vários importantes diretores do cinema realizado neste período (Tânia Cardoso de Cardoso, curadora).
* Texto elaborado a partir do artigo: CÁNEPA, Laura Loguercio. Expressionismo alemão. In: História do Cinema Mundial. Fernando Mascarello (Org). Papirus Editora, 5a Edição. Campinas, SP.
Serviço
Cinema expressionista alemão
De 02 a 20 de julho
Local: Sala Redenção – Cinema Universitário (Rua Eng. Luiz Englert, s/n., Campus Central UFRGS
Entrada Franca
Informações: www.difusaocultural.ufrgs.br / www.salaredencao.com
Acompanhe! A ficha técnica, data, horário e sinopse dos filmes da Mostra.
O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari, 1912, Alemanha, 78 min.) dir. Robert Weiner
02 de julho – 2°feira – 16h
04 de julho – 4°feira – 19h
Num pequeno vilarejo da fronteira holandesa, um misterioso hipnotizador, Dr.Caligari, chega acompanhado do sonâmbulo Cesare, que, supostamente estaria adormecido por 23 anos. À noite, Cesare perambula pela cidade, concretizando as previsões funestas do seu mestre. Clássico do horror e um dos melhores já feitos de todos os tempos. A gênese do estilo expressionista no cinema.
O Golem (Der Golem, 1920, Alemanha, 98 min.) dir. Paul Wegener
02 de julho – 2°feira – 19h
03 de julho – 3°feira – 16h
O Golem, mito de uma lenda judaica, é um ser de barro que ganha vida quando um mago usa a mágica de um antigo livro da Cabala. O monstro de barro, interpretado pelo próprio diretor Paul Wegener, foi criado para proteger os judeus dos ataques antissemitas. Paul Wegener já tinha levado duas vezes o mito do Golem para o cinema. Esta terceira versão é sem dúvida a mais bela, brilhantemente iluminada e fotografada pelo célebre fotógrafo do expressionismo alemão Karl Freund. Este filme influenciou vários filmes de Hollywood, especialmente Frankestein.
Nosferatu (Nosferatu, 1922, Alemanha, 94 min.) dir. F.W. Murnau
03 de julho – 3°feira – 19h
05 de julho – 5°feira – 16h
Hutter (Gustav von Wangenheim), agente imobiliário, viaja até os Montes Cárpatos para vender um castelo no Mar Báltico cujo proprietário é o excêntrico conde Graf Orlock (Max Schreck), que na verdade é um milenar vampiro que, buscando poder, se muda para Bremen, Alemanha, espalhando o terror na região. Curiosamente quem pode reverter esta situação é Ellen (Greta Schröder), a esposa de Hutter, pois Orlock está atraído por ela.
A Última Gargalhada (Der Letzte Mann, 1924, Alemanha, 91 min.) dir. F. W. Murnau
05 de julho – 5°feira – 19h
06 de julho – 6°feira – 16h
A Última Gargalhada é um dos mais notáveis trabalhos artísticos do movimento expressionista. O ator Emil Jannings interpreta o papel de um porteiro, cuja felicidade se desfaz quando ele é aposentado de seu cargo, que outrora o trouxera alegrias e orgulho.
Fausto (Eine Deutsche Volkssage, 1926, Alemanha, 116 min.) Dir. F.W.Murnau
06 de julho – 6°feira – 19h
09 de julho – 2°feira – 16h
Dividido em duas partes, o filme recria o pacto de Fausto com Mefistófoles (do clássico literário homônimo) e, no segundo momento, o drama de Goethe, a tragédia de Gretchen. Situando a ação no final da Idade Média, Murnau concebe uma atmosfera mística a partir dos contrastes de iluminação, que remetem à pintura de Rembrandt.
Dr. Mabuse: O jogador (Dr. Mabuse: der Spieler, 1922, Alemanha, 297 min.) dir. Fritz Lang
09 de julho – 2°feira – 19h
10 de julho – 3°feira – 16h
Líder de uma quadrilha, Dr. Mabuse planeja um grande golpe: o roubo de informações privilegiadas da bolsa de valores. Depois de usar seus poderes psíquicos em um golpe no jogo de cartas, Mabuse começa a ser investigado pelo Comissário Von Wenk. Mas as poucas pistas fazem com que o comissário procure alguém para ajudá-lo no caso.
Dr. Mabuse: O Inferno Do Crime (Dr.Mabuse: Ein Bild der Zeit, 1922, Alemanha, 109 min.) dir. Fritz Lang
10 de julho – 3°feira – 19h
11 de julho – 4°feira – 16h
As máscaras do Dr. Mabuse, gênio criminoso, hipnotizador, falsificador, mestre do disfarce e assassino vão caindo paulatinamente. Sua jornada pelo crime continua, mas cada vez mais o cerco vai se fechando pelo incansável investigador Von Venck. Dr. Mabuse tenta de todas as formas neutralizá-lo, chegando até a controlar sua mente numa impressionante sessão de hipnotismo coletivo. Já conhecendo seus métodos, o investigador juntamente com a polícia alemã tenta fechar o cerco. Vendo que seu fim está próximo, a genialidade diabólica do Dr. Mabuse dá lugar à insanidade. Este Mabuse é um dos grandes marcos da história do cinema, por utilizar novas técnicas narrativas. Progresso visto somente nos filmes de David Griffith, realizados oito anos antes desta produção.
Metrópolis (Metropolis, 1926, Alemanha, 119 min.) dir. Fritz Lang
12 de julho – 5°feira – 16h
19 de julho – 5°feira – 16h
Metropólis se passa em 2026, a população está dividida em duas classes: a elite dominante e a classe operária, que vive num mundo subterrâneo, escravizada pelas monstruosas máquinas que fazem a cidade funcionar a todo vapor. Uma revolução operária é planejada, mas sempre impedida por Maria, uma espécie de “líder pacifista” dos trabalhadores, que acha que tudo poderá ser resolvido quando as duas classes se unirem para o bem comum. É quando o chefe da cidade pede a um cientista maligno que construa um robô à imagem e semelhança dela, para que possa gerar a discórdia entre os trabalhadores.
M – O Vampiro de Dusseldorf (M, 1931, Alemanha, 117 min.) dir. Fritz Lang
12 de julho – 5°feira – 19h
13 de julho – 6°feira – 16h
No final da década de 20, um assassino de crianças aterroriza uma cidade alemã. A polícia sai à procura do infanticida, deixando as ruas repletas de tiras, ameaçando as atividades criminosas do submundo do crime. A bandidagem organiza-se e captura o assustado assassino, levando-o para um julgamento onde decidirão se o entrega a justiça ou o condena à morte. Primeiro filme sonoro de Fritz Lang e para muitos a sua obra máxima. O grande cineasta alemão encontrou no ator Peter Lorre a expressão perfeita para refletir realisticamente o medo, a demência, e a languidez do assassino Hans Beckert.
Os Mil Olhos do Dr. Mabuse (Die 1000 Augen des Dr. Mabuse, 1960, Alemanha Ocidental/França/Itália, 103 min.) dir. Fritz Lang
13 de julho – 6°feira – 19h
16 de julho – 2°feira – 16h
Mabuse regressa para destruir o mundo de vez. Através de uma rede de televisão, ele vigia os clientes de um luxuoso hotel com o objetivo de roubá-los e matá-los. O milionário Trevors e a Interpol se unem então para capturá-lo. Último filme de Fritz Lang e de sua trilogia Dr. Mabuse.
O Gabinete das Figuras de Cera (Das Wachsfigurenkabinett, 1924, Alemanha, 65 min.) dir. Paul Leni, Leo Birinsky
16 de julho – 2°feira – 19h
17 de julho – 3°feira – 16h
Um jovem poeta é contratado por um museu de cera para escrever as biografias de três grandes criminosos: o califa Harun al Raschid; Ivan, o Terrível; e Jack, o Estripador. Uma das obras-primas do expressionismo alemão. Três visões diversas e independentes da maldade humana, narradas de formas variadas e em episódios de tamanho desigual.
O Gato e o Canário (The Cat and The Canary, 1927, EUA, 84 min.) Paul Leni
17 de julho – 3°feira – 19h
18 de julho – 4°feira – 16h
Após 10 anos da morte de um homem rico, seu testamento traz a condição de que a herdeira somente receba sua fortuna se for considerada sã, ou então outra pessoa fica com a herança, cujo nome estaria em um envelope selado. Mas o sumiço do advogado, antes que se revelasse a identidade desta outra pessoa, é o primeiro de uma série de eventos misteriosos.
O Homem que ri (The Man Who Laughs, 1928, EUA, 110 min.) dir. Paul Leni
19 de julho – 5°feira – 19h
20 de julho – 6°feira – 16h
Baseado no romance de Victor Hugo, o filme enfoca o herdeiro de um ducado, Gwynplaine (Conrad Veidt), sequestrado quando garoto e, por ordem do rei, desfigurado num perpétuo riso forçado; ele se torna uma atração de circo, famoso palhaço.
O Estudante De Praga (Der Student Von Prag, 1926, Alemanha, 91 min.) dir. Henrik Galeen
20 de julho – 6°feira – 19h
Balduin, jovem estudante, exímio esgrimista, enfrenta problemas financeiros que o impedem de cortejar a condessa pela qual se apaixonou. Mas um homem sinistro surge, oferecendo uma solução para seus problemas e exigindo, em troca, sua sombra.
Fonte: Coordenação e curadoria da Sala Redenção – Cinema Universitário: Tânia Cardoso de Cardoso.
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