sábado, 30 de novembro de 2013

Em dezembro a Sala Redenção – Cinema Universitário dedica sua programação ao Movimento Dogma 95.

Em dezembro a Sala Redenção – Cinema Universitário dedica sua programação ao Movimento Dogma 95, lançado pelos cineastas dinamarqueses Lars von Trier e Thomas Vintenberg – por meio de um manifesto –, que pode ser considerado como um dos acontecimentos cinematográficos mais importantes da década de 1990. Kristen Levring e Sören Krag-Jacobsen uniram-se ao grupo um pouco mais tarde. O Dogma 95 parte de uma rejeição a vertentes tanto do cinema clássico quanto do moderno e ousou não apenas por propor regras, mas por propor verdadeiros mandamentos para a realização cinematográfica, exigindo até mesmo “voto de castidade” dos cineastas. Entre as 10 regras (ou mandamentos) apresentadas no manifesto para obter o “certificado” Dogma 95: filmagens devem ser feitas em locais externos; o som não deve ser produzido separadamente da imagem ou vice-versa; a câmera deve ser usada na mão; o filme deve ser em cores; são proibidos os truques fotográficos e filtros, o nome do diretor não deve constar nos créditos, entre outras.

Segundo Maurício Filho*, o manifesto concentra-se em discutir e criticar diferentes aspectos antagônicos do cinema contemporâneo, como o ideal ilusório do cinema clássico e a política dos autores da novelle vague do cinema moderno, pois dois cinemas criticados têm em comum, justamente, a origem burguesa. Por isso era necessário uma nova proposta que viesse a se sobrepor a estas duas: criar um cinema coletivo (negar a autoria) e criar uma estética voltada à verdade e ao real (negar os artifícios e a ilusão). Ao mesmo tempo ao negar tanto a estética clássica quanto as proposições do cinema moderno, a “nova” estética revelaria heranças dos cinemas criticados - e é justamente essa mistura que reside à originalidade do movimento dinamarquês.

Em 1998, houve o lançamento de Festa de família de Thomas Vintenberg e Os idiotas de Lars Von Trier, materializando em filmes a provocação lançada no manifesto, o que causou grande polêmica. Na tela, imagens feitas em vídeo por meio de câmeras semi-amadoras, tremidas e granuladas, com uma montagem cheia de jump cuts. Tais filmes parecem ter algo de amador com despojamento radical no trabalho cinematográfico. Os filmes do Dogma 95 pareciam apresentar outro horizonte para as produções de baixo orçamento, incentivando uma estética cinematográfica que não apostava no preciosismo técnico ou no tamanho da produção. Tal incentivo permitiu que filmes de baixo orçamento e em condições precárias em todo o mundo tivessem visibilidade no mercado cinematográfico, o que não era tão comum naquele momento. Outra questão importante, destacada por Filho, é que o manifesto Dogma 95, ao contrário dos manifestos artísticos modernos que o inspiraram não nega a estética anterior para lançar uma nova. Ao contrário, se vê obrigado a dar conta das duas experiências (moderna e clássica), condensando as tensões e os impasses no seu próprio discurso. Da mesma forma que negam o cinema de autor, realizam filmes autorais; propõem regras definitivas para negá-las na imprensa, ao mesmo tempo em que não há em seu cinema o abando delas; apontam a “revolução tecnológica” ao mesmo tempo em que a desconsideram. Para o grupo, qualquer realizador que seguisse as regras presentes no manifesto, poderia enviar seu projeto aos cineastas e ter o certificado Dogma 95. Em 2013 completou-se 18 anos do lançamento do manifesto, que influenciaria toda uma nova geração de diretores. Em dezembro a Sala Redenção exibe 07 filmes. Festa de Família (1998) de Thomas Vintemberg; Os Idiotas, deLars Von Trier (1998); Mifune (1999), de Søren Kragh-Jacobsen; O rei está vivo (2000),de Kristian Levring; Italiano para principiantes (2000) de Lone Scherfig; Julien Donkey-Boy (1999), de Harmony Korine, este último, apesar de ser de um cineasta estadunidense, recebeu o certificado Dogma 95. Exibiremos ainda Dançando no Escuro (2000), de Lars Von Trier, um dos primeiro filmes em que o cineasta quebra as regras do movimento.

Tânia Cardoso de Cardoso, curadora da Sala Redenção – Cinema Universitário

• FILHO, H. Maurício. O dogma 95. In: BAPTISTA, Mauro; MASCARELLO, Fernando. (Org). Cinema mundial contemporâneo. Campinas: Papirus, 2008, pp.121-136.


O Quê: Dogma 95

Quando: 02 a 20 de dezembro

Onde: Sala Redenção – Cinema Universitário (Rua Eng. Luiz Englert, s/n., Campus Central UFRGS

Quanto: Entrada Franca


Acompanhe! Ficha Técnica, programação e sinopse da Mostra “Dogma 95”.


Festa de família (Festen, Suécia, Dinamarca, 1998, 105 min) dir. Thomas Vintemberg


02 de dezembro – segunda-feira – 16 horas
05 de dezembro – quinta-feira – 16 horas
12 de dezembro – quinta-feira – 19 horas
13 de dezembro – sexta-feira – 16 horas

Familiares e amigos se reúnem para a comemoração do aniversário de 60 anos de Helge. À medida que as pessoas vão se acomodando, assuntos desagradáveis começam a surgir.


Os idiotas (Idioterne, Dinamarca, 1998, 117 min) dir. Lars Von Trier


02 de dezembro – segunda-feira – 19 horas
03 de dezembro - terça-feira – 16 horas
13 de dezembro – sexta-feira – 19 horas
16 de dezembro – segunda-feira – 16 horas

Grupo de amigos forma uma sociedade à parte, dedicada a explorar todos os aspectos da idiotice como valor de vida.


Mifune (MifunesSidsteSang, Dinamarca, 1999, 98 min) dir. Søren Kragh-Jacobsen

03 de dezembro – terça-feira – 19 horas
04 de dezembro - quarta-feira – 16 horas
16 de dezembro - segunda-feira – 19 horas
17 de dezembro - terça-feira – 16 horas

Um homem tem a sua lua-de-mel interrompida por um telefonema avisando da morte de seu pai, que vivia numa fazenda decadente acompanhado de outro filho. Ao chegar no local ele precisa cuidar do destino do irmão, que tem sérios problemas mentais, e retornar para a nova vida de casado. A solução encontrada foi à contratação de uma empregada. Porém, quem chega para o cargo é uma jovem ex-prostituta, linda e delicada, causadora de uma série de situações tragicômicas, que vão muito além do previsível.


O rei está vivo (THE KING IS ALIVE, Dinamarca, 2000, 109min), dir. Kristian Levring


06 de dezembro - sexta-feira – 16 horas
17 de dezembro – terça-feira – 19 horas
18 de dezembro – quarta-feira – 16 horas

Encalhados em meio ao calor do deserto africano, os onze passageiros de um ônibus se abrigam em meio às ruínas de uma cidade abandonada. À medida que o resgate se torna cada vez mais remoto surge entre eles à ideia de montar em pleno deserto a peça Rei Lear, de William Shakespeare, como forma de passar o tempo e atenuar as tensões crescentes.


Italiano para principiantes (Italiensk for begyndere, Dinamarca, 2000, 112 min) dir. Lone Scherfig

06 de dezembro – sexta-feira – 19 horas
09 de dezembro – segunda-feira – 16 horas
19 de dezembro – quinta-feira – 16 horas

No subúrbio de uma cidade dinamarquesa, um jovem pastor chega para trabalhar na igreja local e é persuadido por um assistente a frequentar aulas de italiano em um curso noturno. Não demora muito e o sacerdote torna-se o centro de um grupo de pessoas para quem o destino reservou golpes um tanto duros, e, aos poucos, cada uma delas vai tentando superar seus problemas, buscando a melhor solução.


Julien Donkey-Boy (EUA, 1999, 97 min) dir. Harmony Korine

09 de dezembro – segunda-feira – 19 horas
10 de dezembro – terça-feira – 16 horas
19 de dezembro – quinta-feira – 19 horas
20 de dezembro – sexta-feira – 16 horas

Julien é um jovem esquizofrênico. Ele vive com seu excêntrico pai alemão, sua irmã grávida, seu irmão e sua avó num bairro suburbano de Nova Jersey. Enquanto seu pai dança ao som de DockBoggs usando uma máscara de gás e seu irmão faz exercícios a fim de tornar-se lutador, Julien vaga pelas ruas ou fala consigo mesmo chamando-se de “King Julien”.


Dançando no escuro (Dancer in theDark, Dinamarca, Alemanha, Holanda, EUA, Reino Unido, França, Suécia, Finlândia, Islândia, Noruega, 2000, 140 min) dir. Lars Von Trier

11 de dezembro – quarta-feira – 16 horas
12 de dezembro – quinta-feira – 16 horas
20 de dezembro – sexta-feira – 19 horas

Selma (Bjork), imigrante tcheca e mãe solteira, trabalha numa fábrica no norte dos EUA e vive num trailer com seu filho Gene (VladicaKostic), de 12 anos. Para sair um pouco da dura realidade, ela sonha com o mundo dos musicais de Hollywood, enquanto uma doença faz com que perca a visão aos poucos. Para que seu filho não sofra o mesmo problema no futuro, ela faz de tudo para juntar dinheiro suficiente para operá-lo e livrá-lo da cegueira genética.


Fonte: Tânia Cardoso de Cardoso, curadora da Sala Redenção – Cinema Universitário.

Realização:




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