Crítica: OS 8 ODIADOS, através de Marcelo Castro Moraes.
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Ao abandonar o mundo contemporâneo e viajar para o passado, a partir do filme Bastardos Inglórios e seguido por Django Livre, Tarantino decidiu explorar épocas e locais diferentes para fazer um retrato da sociedade de ontem e fazendo um paralelo com a de hoje. Assistimos judeus dando o troco contra os alemães, assim como negros se vingando contra os brancos, mas em meio aos tiros e sangue escorrendo, há uma crítica ácida com relação a nossa sociedade que, em pleno século 21, ainda precisa evoluir. O cenário de Os 8 Odiados (um mero armazém em plena nevasca) serve para colocar em pratos limpos inúmeras discussões, desde racismo, direitos humanos, entre outras pautas.
A trama se passa alguns anos após o fim (aparentemente) da guerra civil Americana. Num ponto qualquer do país, John Ruth (Kurt Russell) está transportando uma prisioneira, a bandida Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para ser presa e enforcada. Em meio a viajem, dão carona para um caçador de recompensa (Samuel L. Jackson) e para Chris Mannix (Walton Goggins), que será o novo xerife da cidade que estão indo. Devido a uma forte nevasca, são obrigados a parar num armazém, onde dão de encontro com mais quatro personagens e que serão peças importantes no decorrer da trama. As peças do tabuleiro estão colocadas e resta para o cinéfilo esperar quem vai dar o primeiro tiro para gerar a confusão toda. Até lá, somos apresentados gradualmente a cada um dos personagens, para então sabermos (até certo ponto) a real natureza de cada um deles. Devido a isso, o roteiro exige de nós certa paciência com a apresentação de cada um deles, sendo que, a primeira hora de projeção, é somente comandada por inúmeros diálogos de humor negro bem típico de Tarantino.
Já tendo todos os personagens apresentados, é ai que Tarantino entra em cena realmente: com sua câmera, o cineasta vagueia pelo cenário daquele lugar opressor, onde a qualquer momento, qualquer um que der um passo em falso irá gerar consequências desastrosas. Se dois personagens chaves estão tendo um dialogo pra lá de absurdo, por exemplo, pode ter certeza que ao mesmo tempo, algo a mais está acontecendo. Porém, assim como fez em seus outros filmes, Tarantino gosta de retornar na mesma cena, mais precisamente nos mostrando outro ângulo e fazendo de nós cúmplices de uma situação que os demais personagens (nem todos) desconhecem. São situações que até mesmo remetem aos seus primeiros filmes (como Cães de Aluguel) e dialoga com a proposta que ele passou em seus dois filmes anteriores. Curiosamente é um filme que não nos coloca de nenhum lado, pois cada um dos personagens tem uma conduta duvidosa, porém, humana. Não há heróis ou vilões, para a gente adorar ou odiar.
Só mesmo grandes interpretes para interpretar personagens com condutas duvidosas e somente Tarantino seria capaz de criar a proeza de reunir grandes astros num mesmo cenário. Se Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Walton Goggins, Michael Madsen e Tim Roth são caras já conhecidas do universo tarantinesco, o mesmo não se pode dizer de Jennifer Jason Leigh: afastada de grandes papeis do cinema e tendo se dedicado mais a TV (como a série Weeds) Leigh finalmente ganha um papel de peso em sua filmografia, ao passar toda a loucura, selvageria e imprevisibilidade de sua Daisy Domergue, cuja presença sempre rouba a cena.
O final do segundo e do terceiro ato como um todo, nos brinda com momentos de grandes surpresas, violência e muito sangue. Por mais absurdo que seja, Os 8 Odiados vem a provar que, talvez, Quentin Tarantino seja sim um cineasta humanista, mas só se aprofundando nessa sua última obra, e no resto de sua filmografia, para então compreendermos melhor essa minha teoria.
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Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
Crítica: O BOM DINOSSAURO, através de Marcelo Castro Moraes.
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Se os estúdios Pixar possuem um grande defeito é justamente pelo fato de nos deixar mal acostumados ao nos brindar sempre com um ótimo filme. Claro que eles tiveram alguns escorregões no passado recente, como Carros 2 e Universidade de Monstros, e quando nos deparamos com eles, percebemos que nada na vida é infalível. Portanto, se por um lado ficamos maravilhados com a obra prima Divertidamente que eles lançaram em 2015, por outro nos sentimos confusos quando o estúdio nos presenteia com O Bom Dinossauro, cuja trama soa como algo que já vimos antes, mas não significa de todo ruim. Para começar, o filme já começa de uma forma curiosa, nos mostrando uma realidade alternativa em que os dinossauros não foram extintos, mas sim evoluíram com o passar do tempo. É nessa realidade que conhecemos Arlo, um apatossauro pertencente a uma família de dinossauros fazendeiros, mas que possui certa dificuldade para enfrentar os seus medos, além de uma tragédia que fez piorar os seus temores, Arlo acaba se perdendo e não conseguindo voltar para casa, mas, acaba tendo a companhia de um menino selvagem chamado Spot e ambos se juntam para uma cruzada de descobrimentos até o caminho para casa.
Quem vê o filme rapidamente sente que a trama não soa nenhum pouco original, já que as situações que os personagens passam já foram vistas em outros filmes, desde Rei Leão, Era do Gelo Irmão Urso e por aí vai. É aquela velha trama sobre a superação, ou seja, superar um trauma do passado e buscar assim a sua redenção. Se essas fórmulas de sucesso já se encontram meio que desgastadas, pelo menos os estúdios Pixar usam isso para nos emocionarmos em determinadas cenas chaves. Cenas, aliás, que provam que não é preciso dialogo para que elas se tornem emocionantes, pois bastam os gestos, os olhares e as ações dos personagens, para compreendermos o que o personagem quer nos passar. Bom exemplo disso é quando Arlo e Spot descobrem que ambos têm algo em comum, através de círculos na terra, galhos e puramente os olhares de cada um deles.
Em termos técnicos, Pixar nos surpreende com a reconstituição do que poderia ser a terra a milhões de anos atrás. Por um momento a animação computadorizada nos confunde com tamanho realismo das cenas, como se elas realmente fossem reais ao ponto de a gente desejar tocá-las.
Desafios surgem para os personagens enfrentarem, assim como vilões traiçoeiros e perigosos. Neste percurso, o laço de amor e amizade entre Arlo e Spot aumenta ainda mais. São momentos como esses dos quais as pessoas de todas as idades irão se identificar e nisso os criadores da Pixar capricharam como sempre, e embora não chegue ao nível de qualidade Pixar, O Bom Dinossauro é um filme gostoso para ser assistido com os pequenos, mas, que até mesmo o adulto irá se identificar com a descompromissada história de amor e amizade.
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Crítica: Spotlight: Segredos Revelados, através de Marcelo Castro Moraes.
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Um dos segredos para o sucesso do clássico Todos os Homens do Presidente era pelo fato do filme não se encarregar de somente retratar os motivos que levaram ao escândalo watergate (1972), como também retratar qual é o verdadeiro papel de um jornalista profissional, ou seja, investigativo. O filme estrelado pelos astros Robert Redford e Dustin Hoffman serviu de modelo para outros filmes que viriam a seguir, como no caso de ‘Zodíaco’ de David Fincher. Spotlight: Segredos Revelados talvez venha a ser mais um novo discípulo do clássico dos anos 70, mas, ao mesmo tempo falando muito por si! Por tocar num assunto espinhoso.
Marty Baron (Liev Schreiber) manda um grupo de jornalistas de Boston investigar supostos casos de padres abusando sexualmente de crianças durante décadas, o grupo liderado pelo jornalista Walter Robinson (Michael Keaton) decide então escavar cada pista do que eles puderem descobrir. Mal eles sabem que, na realidade, os horrores que essas crianças passaram estão muito além de Boston. Embora polêmico, o filme de Tom McCarthy (O Visitante) não procura demonizar a igreja Católica, mas sim procurar e divulgar uma lista completa de indivíduos que, se dizem a serviço de Deus, mas que não passam de lobos vestidos de cordeiros, além disso, o filme se envereda mais para o papel do jornalista investigativo, fazendo da trama um verdadeiro filme policial e não meramente um drama. A câmera de McCathy não deixa escapar nenhum dos personagens principais, e criando então um verdadeiro mosaico, dos fatos que nos são apresentados durante as investigações.
Demonstrando serem verdadeiros profissionais da área, os personagens optam em não discutirem o certo e o errado sobre o papel da Igreja Católica durante a sua história, mas, sim buscarem os verdadeiros fatos, pois querendo ou não, há pessoas próximas a eles que convivem com a igreja diariamente. Marty optou ir à busca dos fatos ao lado desse grupo de jornalistas por motivos claramente pessoais, mesmo que nunca tenha demonstrado as suas reais motivações, mas sim escancarando somente o seu lado profissional. O mesmo não acontece com Michael Rezendes (Mark Ruffalo, ótimo): determinado, e sempre persistente em busca dos fatos, Rezendes gradualmente se deixa levar pelas emoções no caso em que trabalha, não que o seu passado tenha algo de similar com aquilo que ele investiga. Com trejeitos e cacoetes visíveis, Ruffalo novamente cria um personagem que se difere daquilo que ele já fez anteriormente. E se o desempenho de Rachel McAdams se apresenta um pouco decepcionante no decorrer do filme, o mesmo não se pode dizer do desempenho do ex-Batman Michael Keaton, que, após ressurgir das cinzas com Birdman, ele demonstra total controle na interpretação em meio a inúmeros interpretes, e sempre quando está em cena contracenado com outros, nossas atenções sempre estão em volta dele.
Com um final em que os personagens alcançam os seus objetivos, Spotlight: Segredos Revelados vem para questionar o mundo jornalístico de hoje que, cada vez mais se preocupa com a audiência, ao invés de investigar e lançar os verdadeiros fatos de determinados assuntos, seja ele político ou religioso.
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Crítica: CAROL, através de Marcelo Castro Moraes.
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Em 2002, o cineasta Todd Haynes (Não estou lá) viaja aos anos 50, e nos apresenta uma história, onde vemos uma mulher (Julianne Moore) se chocar ao descobrir que seu marido (Dennis Quaid) é gay. Em contra partida, ela mesma busca consolo nos braços do jardineiro negro (Dennis Haysbert) e despertando os olhares e preconceito da comunidade local. Estamos nos anos 50, onde ser gay era ser doente e ser negro era ser diferente, sendo então uma época conservadora, mas que ao mesmo tempo já dava sinais que não poderia mais esconder as pessoas e suas diferenças. Com isso, Haynes decide então retornar a essa década problemática, onde vemos em seu mais novo filme, a relação de uma mulher mais velha chamada Carol (Cate Blanchett) com uma jovem chamada Therese (Rooney Mara). De uma simples amizade e troca de olhares que, começou numa loja de brinquedos, vai gradualmente a uma relação mais intensa. O problema é que Carol é casada com Harge Aird (Kyle Chandler), e não o ama mais, mas ambos possuem uma filha e ele ameaça tirar dela a guarda da criança.
Lembrando novamente que estamos nos anos 50, num período em que muitos assuntos ainda eram tabus, não somente com relação à opção sexual, como também na falta de mais liberdade para a mulher. Carol tem tudo na vida, mas não se sente completa e seu dia a dia é somente nas aparências. Therese busca a realização de seus sonhos desde quando era criança, mas não busca exatamente um príncipe encantando. Haynes capricha, não somente na apresentação das duas, como também quando ambas estão frente a frente, através de olhares e gestos. A fotografia fria (a trama se passa no natal) se mistura com as cores quentes do ambiente e de uma época de luz, mas ao mesmo tempo nas aparências, de uma sociedade que vendia a vida perfeita. Carol se vê sufocada nesse cenário mentiroso.
Não espere por algo explicito e ardente como foi em filmes como Azul é a Cor Mais quente. Aqui é tudo nos apresentado de uma forma delicada que, uma vez consumada, se percebe então que valeu a pena chegar até esse momento. Portanto, Cate Blanchett e Rooney Mara nos convencem a todo o momento em cena, onde sentimos em cada gesto e olhar de uma paixão ardente pronta para transbordar. Uma se torna o pilar da outra, fazendo o filme pulsar a todo o momento e fazendo a gente desejar pela felicidade de ambas. Infelizmente o preconceito bate a porta a todo o momento em que elas dão um passo à frente para a felicidade. Harge Aird é uma clara representação dessa intolerância, mas ao mesmo tempo em que ele não esconde o fato de não saber compreender ao certo a posição de sua esposa, ao ponto de sentirmos até mesmo pena dele.
Dirigido por outra pessoa, o filme poderia facilmente cair no previsível no seu final, mas Haynes fecha trama de uma forma aberta e fazendo com que a gente se pergunte o que virá a seguir para as protagonistas. É um final que sintetiza a indefinição de um futuro perfeito, ou seja, viva ou morra! Viva por aquilo que você deseja, ou morra gradualmente num mundo das aparências e da alienação. Com uma bela fotografia e edição de arte da época, Carol estreia justamente num período em que há certos conservadores que, tentam pegar a nossa realidade e regredir no tempo, mas o próprio passado visto no filme, ao qual eles querem voltar, nos ensina que nada pode frear o que realmente nós sentimos.
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Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
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