domingo, 10 de janeiro de 2016

TIGRE BRANCO ESTREIA NA SALA PAULO AMORIM EM PORTO ALEGRE.




O filme TIGRE BRANCO, do diretor russo Karen Shakhnazarov, novidade desta semana na Sala Paulo Amorim (Rua dos Andradas, 736 - Porto Alegre RS), sempre às 19h. O longa-metragem foi um dos destaques da Mostra de Cinema Russo MosFilm, realizada na Cinemateca Paulo Amorim em setembro do ano passado.

O longa é ambientado nos meses finais da 2ª Guerra Mundial, quando a Rússia entra na Europa Ocidental e vence várias batalhas. Quando todos acham quem a guerra está com os dias contados, os nazistas apresentam um trunfo: um tanque chamado Tigre Branco, praticamente impossível de ser enfrentado. Representante da Rússia na indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013, o filme trata do tema com elementos de filosofia e mistério e tem como protagonista um soldado que consegue conversar com os tanques de guerra.


Segue uma entrevista de Karen Shakhnazarov, diretor de “Tigre Branco” e presidente da Mosfilm

Em 30 de novembro de 2012, "The Moscou Times" publicou entrevista concedida por Karen Shakhnazarov a Joanna Koslowska. O diretor, que também preside o Mosfilm, maior estúdio de cinema da Rússia, falou sobre seu filme "Tigre Branco", misticismo no cinema e a luta pela reconstrução da indústria cinematográfica no país.


JK: "Tigre Branco" é bem diferente da média dos filmes sobre a 2ª Guerra Mundial. A história de um soldado que se propõe a derrotar um tanque alemão monstruoso muitas vezes beira o místico. Por que você escolheu esse ângulo particular?

KS: Parti de um conto de Ilya Boyashov chamado "O Tanquista". A escolha se deu simplesmente porque achei a história muito interessante. Penso que é o que a maioria dos diretores fazem quando selecionam o que vão filmar. O "tanque fantasma" que dá nome ao filme lembrou-me "Moby Dick" de Melville. Creio que ainda se pode argumentar que o filme é realista. Muitas cenas, como a da capitulação alemã e o banquete que ocorre na sequência, baseiam-se na íntegra em fontes históricas. Eu diria que o elemento sobrenatural ajuda a tornar a história mais universal. O "Tigre Branco" não se limita a representar a ameaça militar alemã na década de 1940. Afinal, a ideologia nazista está bem viva. Os movimentos neonazistas são abundantes, a filosofia de Nietzsche ainda é considerada respeitável e lecionada em universidades. Muitos vão argumentar que o link Nietzsche-Hitler é tênue. Ainda assim, acho que a leitura de "Anticristo" deixa claro que o nazismo não apareceu do nada. Este é o lugar para o qual o final do filme aponta. Mesmo que os companheiros do tanquista Naydenov procurem convencê-lo de que a guerra acabou, ele sabe que precisa ficar alerta.


JK: Então você concordaria que "Tigre Branco" remete a uma tradição "mística" no cinema: Tarkovsky, Fellini...

KS: Fellini foi provavelmente o diretor que mais me influenciou. Na minha opinião, o que as pessoas chamam de "misticismo" se resume a uma certa sensação de mistério. A própria palavra é derivada de "mistério". Eu sempre senti que a própria vida é um mistério, que os pressupostos racionais sobre ele são sempre limitados. Uma boa obra de arte deve ser capaz de capturar isso. É por isso que eu amo Fellini e Buñuel.


JK: Hitler interpretado pelo ator Karl Krantzkowski também é uma figura incomum. O ditador nazista é frequentemente retratado como um fanático frenético. Em seu filme, ele é frio, reservado e calculista.

KS: Acho que isso é mais próximo da verdade histórica. A tendência de caricaturar Hitler, retratando-o como um palhaço, obscurece a periculosidade de continuação de suas ideias e sua política. Um palhaço não teria sido capaz de alcançar tal poder, criar tal máquina de guerra e cometer tais atrocidades. Ele deve ter sido um político de muito sangue-frio. Quanto a Krantzkowski, eu sabia que tinha que contratar atores alemães. Qualquer outra coisa estava fora de questão. Eu queria que meus alemães falassem alemão, e o alemão soasse absolutamente natural.


JK: Você disse que os filmes de guerra são o gênero mais difícil de dirigir. Por quê?

KS: As razões são puramente práticas. Nenhum outro gênero exige tal esforço físico e incorpora tantas cenas de massa. É claro que falo de filmes que apresentam cenas de batalha. Você pode ter um filme de guerra perfeitamente legítimo com dois personagens conversando em uma sala, nesse caso é diferente.


JK: Você é diretor-geral do Mosfilm desde 1998. Como é que a indústria do cinema russo mudou desde então, e quais foram os maiores desafios?

KS: Eu diria que, na década de 1990, tivemos que começar do zero. Nós literalmente tivemos que reconstruir toda a indústria. A coisa mais importante era transformar o Mosfilm em um estúdio de cinema tecnologicamente moderno, introduzindo uma série de tecnologias de pós-produção cruciais. Foi só no final de 1990 que os modernos equipamentos de som ou computação gráfica apareceram no Mosfilm. Acho que a nossa indústria cinematográfica está agora em pé de igualdade com os europeus. Hollywood é certamente um caso à parte, mas em relação à França ou Itália estamos bem.


JK: Que papel você gostaria de interpretar no cinema russo moderno?

KS: Nunca pensei sobre isso, eu só quero continuar a fazer filmes com base em material que considero interessante. Quanto ao cinema russo hoje, nós do Mosfilm estamos felizes de trabalhar com qualquer um que tenha uma ideia intrigante. No entanto, penso que havia ideias de alguma forma mais artísticas em tempos soviéticos do que hoje. Não é apenas um fenômeno russo. Pense nos diretores italianos em 1960 e 1970: Fellini, Antonioni, Pasolini... Talvez isto seja apenas expressão do modo como à cultura mundial se desenvolve.


Fonte: Programação e divulgação da Cinemateca Paulo Amorim, através de Mônica Kanitz.

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