sexta-feira, 20 de junho de 2014
Crítica: O Homem Duplicado, através de Marcelo Castro Moraes.
Fonte: www.google.com.br/imagens
Infelizmente não li praticamente nada do escritor José Saramago, sendo que já ouvi falar muito de que suas obras seriam praticamente impossíveis de serem adaptadas para o cinema, devido as suas inquietantes e complicadas tramas. Porém, Fernando Meirelles provou que, sim seria possível levar uma de suas obras para o cinema e o resultado foi à adaptação de Ensaio sobre a Cegueira. Antes de morrer, Saramago havia vendido os direitos para adaptação de Homem de Duplicado para ser levado para a tela grande e coube ao mais novo cineasta do momento Denis Villeneuve tomar conta dessa difícil tarefa.
Vindo dos sucessos de critica (Incêndios) e público (Os Suspeitos) Villeneuve cria aqui um filme visualmente inquietante, onde da à impressão que aquela cidade onde o protagonista está é um mundo a parte do nosso. Algo curioso, já que Ensaio sobre Cegueira, Saramago jamais deixa claro onde se passa a trama e aqui não é muito diferente. Com imensos arranhas céus, arrisco dizer que a trama se passa no futuro, mas a historia não se prende a isso e sim na questão da identidade do protagonista.
Adam Bell (Jake Gyllenhaal, ótimo como sempre), um professor de história, que após um dia de trabalho, volta para casa, fica com a sua namorada (Mélanie Laurent) e ficam sempre nessa rotina todos os dias. Numa determinada noite, ao assistir um filme, ele descobre que um dos atores é extremamente parecido com ele. Depois de uma investigação aprofundada, se descobre que o ator se chama Anthony St. Claire (Jake Gyllenhaal, claro) e que tem uma esposa grávida (Sarah Gadon).
Num primeiro momento, acreditamos realmente que existe sim outra pessoa idêntica ao protagonista, mas as coisas não são bem por assim. Para começar, não espere uma trama linear com começo, meio e fim, pois da à impressão que estamos assistindo o presente, mas num determinado momento se tem a ideia de que a trama vem e volta, se dividindo entre o passado e o presente. Se você se descuida, não irá saber, por exemplo, quem está em cena, se é Adam ou Anthony, mesmo ambos aparentando personalidades distintas.
Além de possuir um roteiro que foge de um lugar comum, Villeneuve surpreende ao criar um clima apreensivo, onde aquele mundo, por vezes sombrio, não parece reconfortante em nenhum momento. Muito se deve a bela fotografia em tons pastel, que por vezes se aproxima daquele tão conhecido gênero de filmes chamado noir, com suas luzes, sombras e mulheres belas, porém enigmáticas. Na medida em que o filme vai avançando, criamos em nossas mentes diversas possibilidades sobre o que realmente esta acontecendo e por incrível que pareça cada possibilidade levantada pode sim estar certa.
A meu ver, mais do que sobre a possibilidade de haver duas pessoas iguais, na realidade a trama de Saramago é uma espécie de metáfora sobre inquietude do ser humano contemporâneo em querer sempre ser uma coisa que gostaria de ser mais não pode. Por vezes imaginamos ser outra pessoa, que serviria então como uma bela desculpa, para poder então escapar da rotina e da vida alienada do seu dia a dia, que por vezes impede de despertar o seu outro eu interior. Mas, uma vez esse lado desperto, sempre ocorrerá riscos de se tornar alguém que poderá machucar outro alguém próximo, e a pergunta que fica no ar é: Será que vale à pena arriscar, querendo mudar algo que se sente no íntimo?
Com uma pequena, mas importante participação de Isabella Rossellini, O Homem Duplicado possui um dos finais mais surpreendentes e enigmáticos desse ano, que embora rápido, ele nos levanta mais perguntas do que respostas e que fará com que saiamos do cinema a procura delas.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
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