terça-feira, 3 de junho de 2014
Crítica O LOBO ATRÁS DA PORTA, através de Marcelo Castro Moraes.
Fonte: www.google.com.br/imagens
As pessoas não nascem boas ou ruins, pois elas simplesmente irão se transformar em determinados tipos de pessoas de acordo como elas administrarem os obstáculos que irão enfrentar no decorrer de suas vidas. Pegamos o exemplo de jovens que matam seus colegas de escolas, pelo simples fato de não conseguirem administrar as humilhações impostas por eles. Embora indo por um caminho diferente, O Lobo Atrás da Porta nos apresenta uma trama que tenta nos ensinar a seguinte lição, ou seja, de que devemos enfrentar o mau de frente, para assim não corrermos nenhum risco.
Embora seja o primeiro longa metragem do cineasta Fernando Coimbra, é de se surpreender pelo fato de ele rodar uma trama, cuja ela se oscila entre o drama, comédia e o mais puro suspense psicológico, o qual nos atinge de uma forma arrasadora e nos faz tanto nos identificar com os personagens, como também desejar não querer que estejamos na pele deles. Essa mistura de gêneros começa já no principio da trama, no momento em que uma criança é sequestrada por uma mulher chamada Rosa (Leandra Leal), amante ciumenta que tenta chamar a atenção do homem que ama Bernardo (Milhem Cortaz). As cenas conjugais entre Bernardo e sua esposa (Fabiula Nascimento) beiram o drama, já os momentos de interrogatório, com um delegado desbocado (Juliano Cazarré), entram no território da comédia.
Porém, mais do que uma mistura entre os gêneros, O Lobo atrás da porta, vai inserindo inúmeras possibilidades sobre o que realmente está acontecendo na tela. No principio ouvimos os primeiros depoimentos da esposa, marido e amante, dividindo espaço com flashbacks que revelam o que eles dizem. Contudo, algumas dessas sequências, parecem não se casarem com as palavras deles, provando então ser uma mentira encobrindo os verdadeiros fatos e exigindo maior atenção do cinéfilo.
Conforme a historia avança, o filme vai criando o seu terreno particular em termos de originalidade, mesmo quando o cinéfilo mais atento irá perceber que há referencia a clássicos como Rashomon de Akira Kurosawa. O grande mérito esta na forma como os protagonistas vão mudando conforme o filme avança principalmente no caso da personagem Rosa, interpretada magistralmente por Leandra Leal, no que talvez seja o melhor desempenho de uma atriz que eu vi nesse ano no cinema. Apresentada de uma forma inocente e vitima das circunstâncias, a própria personagem pede para nós embarcarmos na sua trágica historia que, para o bem ou para o mau, compreendemos as suas ações, mesmo quando desejamos jamais chegar ao ponto de sua queda, pois o lugar aonde ela cai não há retorno para ninguém.
Esse talvez seja o maior trunfo do filme, em fazer nos identificarmos com os personagens e fazermos com que ficamos com medo de nós mesmos com os nossos atos, pois no final das contas eles geram consequências que por vezes são irreversíveis. Com isso, em nenhum momento a câmera deixa em paz cada um dos protagonistas, mesmo quando somente um está sendo focado. Coimbra, habilidoso como ninguém, sempre quando pode deixa um espelho em cena, para mostrar um determinado personagem quando não esta sendo visto, mas curiosamente ele usa esse artifício para quem sabe mostrar uma nova camada sendo descascada da personalidade do personagem.
Infelizmente uma vez mostrado essa nova camada dessa personalidade, nos sentimos impotentes perante essas mudanças. A pele de cordeiro é retirada, para então revelar o lobo atrás da porta, mas como eu disse antes, atos e consequências. Pois uma vez o lobo devorando o outro cordeiro em cena (mas sem matá-lo), acaba então cometendo o seu maior erro, transformando então a presa num verdadeiro monstro que estava adormecido.
Uma vez acontecendo isso, ficamos amarrados e somente caminhando lado a lado de uma pessoa que, antes não dávamos nada, para então percebemos que ela virou um lobo e o seu chapeuzinho vermelho é a peça principal para a sua vingança. Vingança essa que somente ira trazer dor e sofrimento para ambos os lados, que poderia ser evitado, mas não são todos desse mundo que conseguem se reerguer de uma queda e conseguir superá-la. Uma vez anjo a pessoa se torna um demônio, não porque queria, mas a sua dor e derrota interior é por vezes mais aniquiladora.
O Lobo atrás da porta é com certeza um dos filmes brasileiros mais corajosos dos últimos anos, com um final digno que nos da um verdadeiro soco no estômago e que nos faz desejar futuramente sempre querer repensar sobre nossas escolhas, pois as consequências podem se tornar irreversíveis e machucar a pessoa mais próxima.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
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