domingo, 21 de dezembro de 2014

Crítica: O ABUTRE, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Ao longo da vida eu conheci pessoas que, no princípio, se apresentavam como verdadeiros maus-caracteres, mas que mesmo assim se davam bem na vida. Num primeiro momento, podemos dizer que talvez essas pessoas tenham se vendido para conseguir uns degraus a mais da vida, mas e se eles mesmos se colocaram lá, sujando as mãos e manipulando outras pessoas? Esse pensamento me veio ao assistir o filme O Abutre que, para o bem ou para o mal, é uma representação do homem comum contemporâneo que, não importa o que acharem de sua imagem, desde que ele consiga chegar aos seus objetivos!

Estreando como diretor (antes roteirista de filmes como Gigantes de Aço), Dan Gilroy conduz a história de Lou Bloom (Jake Gyllenhaal), que busca a oportunidade de crescer na vida. Para isso, busca meios nada politicamente corretos, para registrar as melhores cenas de crimes e acidentes que ocorrem na cidade de Los Angeles. Não demora muito para ele ganhar prestígio e atingir os seus objetivos.

Independente de qual a profissão que a pessoa exerça quem for assistir irá se identificar com a trama. O que vemos é um protagonista sem escrúpulos, que não mede esforços para conseguir os seus objetivos, nem que isso custe até a vida das pessoas a sua volta. Por mais cru que possa ser, é um retrato de inúmeras pessoas que usam meios nada corretos para se ganhar a vida.

Num ano que tem provado cada vez mais versatilidade em seus trabalhos (os últimos foram Os Suspeitos e O Homem Duplicado) Jake Gyllenhaal surpreende novamente ao criar para o seu personagem uma personalidade forte, persistente, cuja ambição e genialidade andam de mãos dadas no decorrer do filme. Por mais que desprezemos suas atitudes para alcançar suas ambições, seu Lou Bloom é aquele personagem que você odeia, mas ao mesmo tempo o ama, pois as suas palavras sobre como movem as engrenagens do mundo dos negócios, independentemente de quais elas forem, faz com que nós, querendo ou não, concordemos com ele.

Em parte, não o culpamos por ele ser o que é, pois o mundo no qual ele trabalha (ou seja, a imprensa) chega a ser tão culpada quanto ele. Nesse caso, a personagem Nina Romina (Rene Russo, ótima) que comanda um jornal do qual transmite as imagens que Bloom filma, só não é pior do que ele porque ela tenta, mesmo que de uma forma hipócrita, passar uma conduta de pessoa insubornável e justa. Mas verdade seja dita: uma vez demonstrando interesse pelo material de Bloom, ela acredita num primeiro momento que está com a galinha dos ovos de ouro em mãos, mas ela mesma se torna uma peça para o jogo de xadrez e ambição do protagonista.

Para não dizer que todos desse universo são comprados de acordo com os seus desejos, o assistente de Bloom, Rick (Riz Ahmed), que o ajuda na busca dos crimes e acidentes pela cidade, se torna uma espécie de "bom senso" perante o seu chefe. Ele quer apenas trabalhar e ganhar o necessário para sobreviver, mesmo quando começa a se dar conta de que tipo de pessoa é Bloom. Porém, até as ovelhas podem ser compradas, mesmo tendo a consciência de estar se encaminhando para o caldeirão.

Tecnicamente o filme é impecável em termos de agilidade, sendo que a sua montagem rápida, faz com que as cenas em busca de um furo jornalístico se tornem um verdadeiro balé de imagens rápidas e eficazes. Na realidade isso é proposital, pois tanto o protagonista como outro rival do seu ramo (aqui interpretado por Bill Paxton) corre sempre contra o relógio para ver quem consegue chegar mais rápido no local dos acontecimentos, para capitar as imagens que lhe darão algum lucro. Porém, o filme se beneficia mais ainda nos momentos de pura tensão, em que Bloom se arrisca ao máximo para conseguir um furo, nem que para isso consiga que determinados crimes se tornem piores para então se beneficiar disso.

Com um final corajoso para os padrões do cinema norte americano atual, O Abutre é aquele tipo de filme que nos faz pensar e questionar até aonde iriamos para alcançar os nossos objetivos. Vale mais a pena alcançar degraus acima profissionalmente ou manchar a imagem da sua pessoa? Para o bem ou para o mal a gente sempre colhe o que planta!


Trailer

Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário