sexta-feira, 27 de maio de 2016

Crítica: EXILADOS DO VULCÃO, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Três anos depois de ser premiado no Festival de Brasília, finalmente chega na capital gaúcha o imprevisível Exilados do vulcão, primeiro longa de Paula Gaitán, que no passado criava ensaios documentais como: Diário de Sintra (em torno dos últimos anos de Glauber Rocha), Vida (sobre a atriz Maria Gladys) e Agreste (sobre Marcélia Cartaxo).

Há algo de diferente no ar em Exilados do vulcão, uma qualidade cinematográfica incomum se anuncia em suas primeiras imagens em cena: uma longa panorâmica das montanhas de Minas sob uma espessa névoa é o foco principal do que será feito essa trama. O ponto de partida é um incêndio que destruiu tudo o que constituía a identidade e a história de um fotógrafo (Vincenzo Amato), o que sobra foi um diário, e inúmeras fotos. É a partir desses poucos fragmentos que seu amor (Clara Choveaux) se embrenha em uma cruzada para montar a trajetória do desaparecido. A mulher se aproximará então de lembranças, lugares e imagens registradas em palavra ou através de lembranças do rosto da pessoa que ela amou. No longa, a busca faz com que o passado e o presente se fundem em inúmeras cenas e criando um verdadeiro mosaico de som e imagem que soltam aos nossos olhos, e fazendo com que montemos as inúmeras possiblidades sobre o que realmente acontece na tela.

Nesse jogo de quebra cabeça, em que não por acaso são frequentes as referências à mineração, à prospecção, à escavação, a apresentação das cenas se dá de uma forma pessoal, como se todo o trabalho autoral que a cineasta fez no passado se juntasse aqui e formasse algo que pretende acima de tudo nos querer dizer algo. O mundo do qual a protagonista caminha, por vezes, parece um limbo, ou de um lugar que um dia já foi melhor, mas que não esconde a vida que ainda se encontra por lá. Há uma ligação forte da pele do ser humano com o barro, como o fato da possiblidade de termos nascido da terra e termos que então retornar as nossas raízes.

É um filme experimental, autoral, mas acima de tudo um cinema de arte, do qual dificilmente o que é visto na tela poderia ser visto em qualquer outro lugar, seja num teatro ou tão pouco na tevê. Luzes e sombras formam um único mosaico, cuja câmera por vezes tremula propositalmente, remete um a cinema amador, mas de qualidade e genialidade. Um belo exemplo é a cena em que a protagonista pega o homem que ela ama (ou assim como é em sua mente) com a sua amante numa sala de revelação de fotos em meio a uma forte luz vermelha. Transtornada ela se afasta e se adentra em meio às sombras e diminuindo a sua luz até desaparecer por completo nas trevas, desde já uma das melhores cenas do filme. ´Há em Exilados do Vulcão uma atmosfera poética, da qual poesias em off se casam com perfeição as cenas.

Como em suas obras anteriores, a cineasta Paula Gaitán parece obcecada com relação ao tempo e espaço entre os objetos e a imagem dos objetos em si. Claro que o cinéfilo mais atento irá sentir e enxergar de cara que há referências ao já clássico Árvore da Vida, mas Exilados do Vulcão possui uma identidade própria e uma forma de fazer com que ao sairmos do cinema teremos a absoluta certeza que assistimos a um filme fora dos padrões do cinema convencional.


Trailer

Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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