sexta-feira, 10 de junho de 2016
11ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto.
CINEOP HOMENAGEIA A MEMÓRIA E A OBRA DO CINEASTA EDUARDO COUTINHO (IMAGEM) E O PIONEIRISMO E A TÉCNICA DO RESTAURADOR CHICO MOREIRA
Abertura da 11ª edição do evento será com “Cabra Marcado para Morrer”, filme de 1984 que se conecta as discussões sobre o cinema brasileiro da Abertura à Nova República
A 11ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto celebra, entre 22 e 27 de junho de 2016, a memória de dois nomes muito especiais: Eduardo Coutinho (1933-2014), um dos diretores mais importantes e referenciais da história do cinema brasileiro; e Francisco Sérgio Moreira (1952-2016), o Chico, considerado pioneiro no trabalho de restauração, por anos tendo trabalho na Cinemateca do MAM e na Labocine e com carreira também de montador. De Coutinho, será exibido na mostra Cabra Marcado para Morrer (1984); de Chico, o público vai poder conferir dois títulos montados por ele: Jango (1984), de Silvio Tendler, e Lost Zweig (2002), de Sylvio Back.
COUTINHO: HISTÓRIA E POLÍTICA
O filme mais conhecido e cultuado de Coutinho será o longa-metragem de abertura do evento, na noite de 23 de junho: Cabra Marcado para Morrer (1984). Trata-se de um trabalho de resistência à opressão e à perseguição, um projeto de sobrevivência em tempos sombrios e que se conecta diretamente à Temática Histórica da mostra este ano, O Cinema Brasileiro da Abertura à Nova República. “O filme abriu uma 'caixa preta' da clandestinidade e da luta, reconhecendo na história rostos e experiências humanas”, destaca o curador Francis Vogner dos Reis. “O reconhecimento brutal das marcas e dos efeitos cruéis da ditadura como testemunho e documento dos prejuízos humanos, culturais e políticos do regime militar estão ali em cena”.
Cabra Marcado para Morrer começou a ser realizado em 1964, com a proposta de ficcionalizar a trajetória do líder camponês João Pedro Teixeira, assassinado pouco tempo antes na região rural de Pernambuco. A produção teria como protagonista Elizabeth Teixeira, também líder camponesa e esposa de João. Ela iria interpretar a si mesma. Porém, com o golpe civil-militar em abril daquele ano, que depôs o governo de João Goulart e instaurou a ditadura no Brasil, a equipe de realização acabou perseguida e em fuga. A interrupção do projeto foi imediata e traumática, com as latas de negativo de duas semanas de filmagem aparentemente perdidas.
Coutinho retomaria o material quase duas décadas depois, ao descobrir negativos originais que haviam sido escondidos por um membro da equipe. Não vendo mais sentido em fazer a ficção planejada sobre João Pedro, ele decidiu realizar um documentário que tratasse justamente do impacto da obstrução do filme original e o quanto a experiência afetara os moradores da cidade de Sapé, onde algumas cenas tinham sido rodadas. O cineasta retornou ao local, reencontrou Elizabeth Teixeira e vários antigos colaboradores e participantes do projeto original e fez uma ponte entre o projeto abortado de 1964 e as dores deixadas pelo regime militar em 1984.
O filme de Coutinho, definido pelo crítico e pesquisador Jean-Claude Bernardet ainda na época como “um divisor de águas”, é um símbolo ao mesmo tempo da força do golpe perpetrado pela ditadura (e várias de suas consequências) e das esperanças da redemocratização surgidas na primeira metade dos anos 1980. “Se formos pensar a narrativa histórica do Cinema Novo, Cabra Marcado para Morrer é também uma avaliação desse percurso: o encontro do cinema com o Brasil profundo no delineamento de suas lutas históricas tendo como contraface a intervenção direta das circunstâncias históricas no próprio filme, interrompendo-o e censurando-o”, analisa Francis Vogner.
Entre 1964 e 1984, Eduardo Coutinho seguiu em outros projetos, enveredando por um tímido cinema de ficção, formado por três filmes (um curta-metragem e dois longas), o trabalho com roteiros (escreveu a adaptação de A Falecida para Leon Hirszman dirigir em 1965, entre vários outros) e pela bem-sucedida trajetória na televisão, a partir de 1975, quando produziu documentários excepcionais para um então significativo “Globo Repórter”.
O ano de 1999 marca a grande guinada de sua carreira, com o lançamento em cinemas de Santo Forte, o primeiro de uma série de filmes marcantes que depuraram seu estilo e o reforçaram como um de nossos grandes cineastas. Seguiu-se uma sequência impressionante de trabalhos significativos: Babilônia 2000 (2000), Edifício Master (2002), Peões (2004), O Fim e o Princípio (2005), Jogo de Cena (2007), Moscou (2009), Um Dia na Vida (2010) e As Canções (2011). O trabalho derradeiro, Últimas Conversas, foi lançado em 2015, um ano após sua morte e tendo sido finalizado pelos parceiros Jordana Berg e João Moreira Salles.
Para o curador Francis Vogner, os filmes de Coutinho entre 1999 e 2014 colocam em questão os laços de convivialidade e memória, tendo também uma grande força política, espertamente inserida nas escolhas de quem e de como filmar. “Ele não conforma os filmes a uma pauta política e à militância programática contra ou a favor de algo. Interrogar as pessoas e a realidade é um modo de restabelecer o equilíbrio de poder entre cineastas e personagem. O questionamento e a dúvida são mais importantes do que teses ou respostas fechadas”.
CHICO: MONTAGENS DA MEMÓRIA
Numa prolífica trajetória profissional, Chico Moreira atuou como fotógrafo, montador, pesquisador, conservador e restaurador cinematográfico. Tornou-se um dos pioneiros da restauração no Brasil e da utilização de imagens de arquivo em novas obras audiovisuais, o que conecta o tributo proposto pela CineOP aos conceitos da Temática Preservação. Durante 20 anos, entre 1979 e 1999, Chico prestou serviços à Cinemateca do MAM-RJ, restaurando centenas de filmes. Algumas de suas ações mais significativas no período foram a climatização da reserva técnica de filmes do MAM e a formalização de um acordo de transferência das matrizes e de acervos antes sob guarda dos laboratórios Líder, da produtora Atlântida e do Canal 100.
Em 2000, passou a trabalhar para o Departamento de Restauração da Labocine, desenvolvendo projetos de restauração fotoquímica e digital junto ao CPCB (Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro), ao estúdio Cinédia e à produtora Regina Filmes. Recuperou ou restaurou obras como O Ébrio, Aviso aos Navegantes, Tudo Azul, Menino de Engenho, Alô, Alô, Carnaval!, O País de São Saruê, É um Caso de Polícia, A Bolandeira e toda a obra de Nelson Pereira dos Santos.
“Seus esforços para a criação de equipamentos artesanais e que se adequassem aos problemas apresentados pelos materiais fílmicos renderam a Chico a fama de 'mago das soluções técnicas' e proporcionaram ao departamento o Prêmio Especial de Preservação, concedido pela Academia Brasileira de Cinema em 2009”, destaca Hernani Heffner, curador da Temática Preservação.
Em paralelo ao trabalho de restaurador, o carioca Chico Moreira – formado em Cinema pela UFF (Universidade Federal Fluminense) – desenvolveu carreira como montador, tendo editado 10 longas-metragens e 14 curtas, de cineastas como Silvio Tendler, Sylvio Back, Ivan Cardoso, Werner Schunemann, Manfredo Caldas, Márcio Câmara e Marcos Souza Mendes. A CineOP vai exibir dois filmes nos quais Chico assina a montagem: Jango (1984), de Silvio Tendler; e Lost Zweig (2002), de Sylvio Back.
“Chico era um profissional respeitado e admirado pela comunidade da preservação audiovisual, sempre participando de encontros, congressos, festivais e associações profissionais. Era uma referência inconteste”, comenta Heffner.
Serviço:
11ª CINEOP - MOSTRA DE CINEMA DE OURO PRETO
22 a 27 de junho de 2016
LOCAIS DE REALIZAÇÃO DO EVENTO
Cine Vila Rica (plateia 400 lugares)
Centro de Artes e Convenções |Cine-Teatro (plateia 510 lugares)
Praça Tiradentes – Cine-Praça (plateia 1000 lugares)
Fonte: Universo Produção - ETC Comunicação, através de Núdia Fusco, Lívia Tostes e Luciana d’ Anunciação.
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