sábado, 18 de junho de 2016
Crítica: TRAGO COMIGO, através de Marcelo Castro Moraes.
Fonte: www.google.com.br/imagens
No filme HOJE, a personagem de Vera (Denise Fraga) está se mudando para um novo apartamento, já que conseguiu através de uma indenização vinda do governo em decorrência do assassinato do seu marido Luiz (César Troncoso) no tempo em que eram militantes. No decorrer da obra, a personagem relembra o seu passado e enfrentando dolorosas lembranças e fantasmas dos quais não consegue desvencilhar. Toda a trama se passa em um único cenário, ou seja, o apartamento, do qual se torna uma espécie de peça fundamental para a trama. Naquele filme, Tata Amaral quis fazer uma trama na qual as lembranças de tempos difíceis como o da ditadura se tornassem algo dolorido e de difícil esquecimento. Quem vivenciou sabe o que eram aqueles tempos, porém em Trago Comigo a cineasta dá continuidade, demostrando a melhor forma possível de manter essa história viva, servindo de alerta para que os erros do passado não se repitam em nosso presente.
Telmo (Carlos Alberto Riccelli) é um ex militante que agora está aposentado. Apaixonado pelo teatro decide adaptar a sua vida de luta no palco, para que então,mnão somente exorcize as suas antigas dores, como também consiga lembrar-se de coisas que ele próprio havia esquecido. Assim como HOJE, boa parte da trama se passa em um único cenário, ou seja, tudo ocorre dentro do teatro no qual eles irão fazer a peça. Porém, mais do que vermos os personagens centrais ensaiando para a peça, também vemos essas determinadas cenas cortarem para cenas da peça já sendo encenada pra valer. Através disso cria-se um belo jogo de cena, fazendo com que criamos um quebra cabeça mental, onde comparamos o antes e o depois da cena, já orquestrada para um possível público que for assistir.
O casamento entre cinema e teatro não é exatamente novo para o cinema brasileiro autoral de hoje, já que ano passado havia sido lançado o filme Orestes, de Rodrigo Siqueira, e que tratava de temas semelhantes. Curiosamente, ambos possuem o teatro como pano de fundo, dando a entender que essa arte, ou qualquer outra que se preze, seja uma espécie de escape para exorcizar os seus demônios pessoais. Outra semelhança é que ambos são compostos por ficção/documentário, com relatos de ex militantes e também de seus parentes.
Interessante observar que, embora ajam pessoas conhecedoras de história, é impressionante como ainda existam pessoas do nosso mundo real que desconhecem as consequências daquele período e que até mesmo desejam o seu retorno. Pegamos, como exemplo, o personagem Miguel Jarra (Felipe Rocha), um ator de novelas, aparentemente limitado, mas que deseja atuar na peça. Porém, ele demonstra total desconhecimento da época da ditadura e não consegue entrar no personagem. Embora seja coadjuvante, o personagem de Felipe Rocha se torna bem interessante no decorrer da trama, já que ele seria uma espécie crítica que a cineasta faz, não somente sobre a geração atual desinformada, como também a geração de atores televisivos, que nada mais são do que meros bonecos fazendo pose de galão. Contudo, o seu personagem vai se transformando, principalmente quando descobre aos poucos o que Telmo realmente passou. Quando chegamos ao final, percebemos uma transformação completa de seu personagem, que se distancia da imagem que ele tinha no princípio do filme.
Claro que a verdadeira alma do longa acaba sendo o próprio Telmo, sendo interpretado de uma forma convincente, para não dizer inesperada, pelo ator Carlos Alberto Riccelli. De forma eficiente, ele consegue passar para nós o fato de seu personagem carregar um grande peso em suas costas, principalmente quando ele se considera culpado pela perda de um grande amor de seu passado. Riccelli transmite realidade, tanto no olhar, como nas palavras e trejeitos de uma pessoa cheia de cicatriz internas. Em tempos em que vemos na tevê deputados conservadores que idolatram torturadores do tempo da ditadura, filmes como Trago Comigo se tornam obras atuais e obrigatórias para serem vistas e revistas por pessoas que procuram os verdadeiros fatos da nossa história.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
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