sexta-feira, 9 de setembro de 2016
Crítica: AQUARIUS, através de Marcelo Castro Moraes.
Fonte: www.google.com.br/imagens
Aquarius não é somente o levantamento de uma bandeira em defesa do passado, mas também uma lição em manter e não esquecer o que já foi um dia tão precioso. Dirigido pelo cineasta Kleber Mendonça Filho (Som ao Redor) acompanhamos o dia a dia da escritora aposentada ‘Clara’ (Sonia Braga, espetacular), que vive sozinha num apartamento à beira-mar chamado ‘Aquarius’. Tanto o seu apartamento, como também o que há de melhor dentro dele, fazem parte da vida de Clara. Porém, Uma construtora, representado pela presença do ambicioso Diego Bonfim (Humberto Carrão), deseja por abaixo o apartamento da protagonista e construir ali um grande prédio, dando início ao confronto entre Clara e Diego.
O filme já começa num passado distante, mas que já nos identificamos de imediato, ou seja, estamos no início dos anos 80. Nos primeiros minutos, descobrimos que Clara enfrentou uma difícil fase da sua vida, mas também fazendo a gente se dar conta que ela pertence a uma família da qual as mulheres demonstraram força ao longo das décadas. Corta para o presente e vemos Clara, uma mulher independente, forte, humilde e que mantém as suas raízes intactas. Já nos primeiros minutos do presente nos deparamos com dois protagonistas, que são Sonia Braga e a câmera do cineasta. Bem ao estilo Hitchcock, Mendonça Filho faz de sua câmera uma espécie de segundo personagem, ao qual não escapa o que acontece na tela e dando destaque aos menores detalhes, mesmo quando eles estão bem ao fundo: a cena que mostra um imenso pano que cobre um prédio ao lado do Aquarius e para logo depois vermos ao fundo de uma cena o que acontece com ele, é um exemplo de um perfeccionismo inusitado do cineasta. Perfeccionismo, aliás, é a palavra de ordem aqui, pois percebemos que em cada cena que surge na tela, ela foi pensada para dar continuidade ao que já aconteceu anteriormente. Se uma música (muitas, aliás) clássica é tocada, ou uma foto surge nas mãos da protagonista, é para então criar uma espécie de simetria e fazendo com que sempre nos lembrássemos de uma situação anterior vista na história. Nada gratuito, mas tudo bem pensando e fazendo com que todos esses elementos se casassem com perfeição do começo até o seu final.
Nada funcionaria se não houvesse Sonia Braga em cena, pois ela fez de sua personagem Clara, uma de suas melhores interpretações. Mulher forte, independente, mas camarada com o seu próximo, Clara é uma personagem que vive ao máximo a cada segundo. Ela se torna então uma espécie de contraste se comparado aos outros personagens em cena, sendo alguns afogados com a corrida desenfreada do dia a dia. Esse contraste é muito bem representado quando ela discute com a sua filha Ana Paula (Maeve Jinkings), sendo essa última uma pessoa sem noção com relação ao que realmente acontece ao mundo em sua volta, mas que no fundo, tenta entender a realidade de sua mãe, que vive para manter as raízes que criou junto com os seus filhos.
Clara jamais desistiu perante os obstáculos, mesmo no pior de seus pesadelos, que foi o câncer de mama enfrentado por ela no início da trama. Num dos momentos chaves do filme, o passado lhe assombra novamente, mas para somente alertá-la, e é aqui então que Kleber Mendonça Filho fecha soberbamente o seu circulo de elementos e peças chaves vistas na trama e faz com que levantemos inúmeras questões e debates acalorados, não somente sobre a trama principal dentro do filme, como também sobre o nosso Brasil atual, como um todo.
Com a participação de um elenco escolhido a dedo, incluindo a sempre cativante presença de Irandhir Santos (Tatuagem), Aquarius é puramente cinema, mas que daqui alguns anos será lembrado como o filme que soube sintetizar o que foi a segunda década do século 21, em nosso Brasil e isso não é pouco.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário