sábado, 24 de setembro de 2016

Em Cartaz a terceira edição de Cinema Pelo Mundo na Sala Redenção – Cinema Universitário.


Caminho para o Nada (Road to Nowhere, Estados Unidos, 2010, 121min) Dir. Monte Hellman


Em outubro, a Sala Redenção – Cinema Universitário, em parceria com Sesc/RS, apresenta na seção Em Cartaz a terceira edição de Cinema Pelo Mundo. Serão exibidos nove filmes, de diferentes estilos, escolas e nacionalidades, realizados entre os anos 2010 e 2014. Abre a programação Pais e filhos (2013), do realizador japonês Hikorazu Koreeda, vencedor do prêmio do júri do Festival de Cannes de 2013 e prêmio pelo público de melhor filme estrangeiro no Festival Internacional de São Paulo, no mesmo ano. O longa aborda e questiona a importância dos laços sanguíneos ao narrar a história de duas crianças trocadas na maternidade, filhas de casais de diferentes classes sociais. Koreeda é especialista em retratar o universo infantil e familiar no Japão e realizou também, entre outros filmes, Ninguém pode saber (2004) e O que eu mais desejo (2011).

O Sonho de Wadjda (2012), da realizadora Haifaa Al-Mansour, é um filme especial. Especial por ser realizado por uma cineasta da Arábia Saudita, país em que os direitos das mulheres não são reconhecidos (e são até mesmo ignorados) e que mulher alguma poderia estar à frente de uma equipe de filmagem. A diretora chegou a declarar que, em filmagens externas, muitas vezes foi preciso se esconder, pois não podia aparecer, muito menos dizendo aos homens no set de filmagem o que deveriam fazer. A obra narra uma história simples, mas pungente: uma menina não aceita e se recusa a aceitar que as mulheres em seu país não podem andar de bicicleta. Longe de ser um filme panfletário, a abordagem é simples, delicada. Vale lembrar que é o primeiro longa realizado por uma mulher na Arábia Saudita – ao menos que se tem notícias. Em 1966, John Lennon estava na Espanha para gravar Oh, que delícia de Guerra!, de Richard Lester, quando um professor resolve viajar e ir até o local da filmagens para conhecer o Beatle. Eis o argumento que deu origem ao filme do espanhol David Trueba, Viver é fácil de olhos fechados (2013). Um road movie divertido, muito bem-realizado, que conquista quem o assiste. No longa de Trueba um professor de espanhol, em plena ditadura Franco, viaja pelas estradas da Espanha e no percurso encontra dois jovens para quem oferece carona. Ao longo do percurso, os três se tornam próximos ao mesmo tempo em que essa proximidade faz com que eles conheçam também melhor o país que habitam. O filme arrematou sete prêmios Goya em 2013. Melhor filme, melhor diretor, melhor ator principal, atriz revelação, roteiro original, música original e melhor figurino. Duas observações: o título do longa remete a um verso da música Strawberry Fields Forever; e, entre várias lições do professor, interpretado pelo excelente Javier Cámara, fiquemos com uma: “às vezes precisamos gritar HELP!”.

Do diretor Fernando Eimbcke exiberemos Club Sandwich (2013). Como Larry Clark, o realizador mexicano se debruça sobre o universo adolescente, jovem. Ao contrário, entretanto, dos jovens problemáticos, transgressores, quase marginais presentes nos filmes de Clark, os jovens nos filmes de Eimbcke são personagens em transformações mais internas do que externas. O ruído, o movimento (ou a falta deles) encenam movimentos que vêm de dentro. Há poucas palavras, vários silêncios em suas tramas. O olhar da câmera recai sobre um personagem tímido que se despede da adolescência e do colo da mãe. O movimento de câmera tenta acompanhar, captar os movimentos internos do personagem, sua timidez, suas dúvidas, silêncios e hesitações. A beleza do filme reside justamente nessa tentativa de captura, sobretudo na impossibilidade de revelar o universo intenso do personagem. Mais corpo, mais movimento, poucas palavras. O título do primeiro longa do médico Thomas Lilti, Hipócrates (2014), é uma referência explícita ao grego considerado “o pai da medicina”. O filme é composto por várias pequenas tramas, todas elas vividas no hospital que o personagem Benjamin (caçula, em francês), médico recém-formado, vai trabalhar, e no qual seu pai é um médico renomado. Eutanásia, ética profissional e preconceito racial são alguns dos temas abordados pelo realizador francês.

Monte Hellman é um veterano realizador estadunidense e um crítico feroz ao cinema de Hollywood. Outsider, foi um dos descobridores de Quentin Tarantino ao produzir Cães de Aluguel (1992), definidor na carreira deste. Caminho para o Nada (2010), seu primeiro longa realizado após 21 anos (dirigiu também Iguana - a fera do mar, de 1988; e A vingança de um Pistoleiro, de 1966), é experimental, metalinguístico; um filme dentro de um filme, com várias citações e referências cinematográficas, cheio de camadas e delírios. Caminho para o Nada é um filme sobre ficção, sobre imagem, sobre cinema, sobretudo e sobre tudo. Um filme ácido, crítico, principalmente ao atual cinema feito em Hollywood. Uma curiosidade: em 2010, quando Tarantino presidiu o júri do Festival de Veneza, criou um segundo Leão de Ouro especial pelo conjunto da obra, quando Hellman participava pela primeira vez do Festival.

Era uma vez em Nova York (2013), de James Gray, já no título remete a um grande épico de Sérgio Leone, Era uma vez na América (1984). Não apenas no título, mas na temática (de imigrantes que chegam à América) e na estética do filme (reconstrução da cidade de Nova York no início do século XX). No caso de Gray, no entanto, o foco está na vida de uma protagonista, uma imigrante polonesa que chega a Nova York na década de 1920. A cidade – por meio de um triângulo amoroso – mostra-se como a cidade dos sonhos e das oportunidades, mas também da exploração e da violência. Gray realizou Amantes (2008) e Os Donos da Noite (2007), ambos também com a participação de Joaquin Phoenix. Nos seus filmes, o foco está nas relações íntimas, familiares e bem pessoais. Em Era uma vez em Nova York o cineasta segue nesta linha. A partir de uma grande saga, da imigração e da construção de Nova York, o foco está nos laços amorosos e íntimos, todos eles distorcidos pelas experiências pessoais de cada uma das personagens.

La Sapienza (2014) é o primeiro filme de Eugène Green lançado no Brasil. Um realizador estadunidense que transita por várias formas artísticas e que, em seus filmes, as mistura, oferecendo-nos uma narrativa caleidoscópica. A trama central gira em torno de um casal em viagem pela Itália a fim de estudar dois renomados arquitetos barrocos, Gian Lorenzo Bernini e Francesco Borromini. Neste percurso, encontram dois jovens irmãos, que se encantam pelo conhecimento do casal. A partir deste fio condutor, nascem também outras questões, como a interação e as transformações por meio das trocas entre gerações. Nem um pouco naturalista ou realista, os diálogos são propositalmente artificiais e autoconscientes da trama, da farsa, da ficção e da fábula; o espectador é lembrado o tempo todo de que aquilo que vê é mera ilusão, sonho, fantasia, tudo isso misturado a uma aula sobre arquitetura barroca, sobre cinema – e pensamos aqui tanto em Cópia Fiel (2010), de Abbas Kiarostami, como em Nostalgia (1983), de Andrei Tarkovsky. Somado a essas questões, o filme também mostra, de forma prática, a importância que o conhecimento artístico – seja ele qual for – tem para as diferentes gerações.

Para fechar a programação de outubro, uma grande homenagem nossa ao diretor francês Alain Resnais, que partiu em 2014, mesmo ano em que lançou seu último filme, aos 91 anos de idade, Amar, beber e cantar (2014). Baseado na peça Life of Riley (2010), de Alan Ayckbourn, o longa narra a história da montagem de uma peça teatral amadora entre amigos que, como não poderia deixar de ser em um filme de Resnais, representam a si mesmos, mostrando a dualidade entre vida e arte, realidade e encenação; o ensaio da peça e a notícia da doença de um dos amigos que dela participa é o mote para o jogo dramático presente no filme do início ao fim. Amigos que encenam e representam, sem deixar de ser o que são, o papel que cada um ocupa na vida do outro, revelando amizade, frustração e traições. Mais uma vez, o realismo é colocado em xeque de diferentes formas, seja pela farsa evidente ou pela ideia de que a máscara da representação também pode cair, revelando algo que está além da mera aparência. No longa, também, o tempo é um personagem importante, senão o principal. Por meio de vários elementos cênicos, vemos a troca das estações e as mudanças na vida dos personagens. Uma bela homenagem do realizador do cine-teatro às duas paixões de sua vida. Faz também um brinde ao tempo, à vida e sobretudo à despedida desta.

Tânia Cardoso de Cardoso, Coordenadora e curadora da Sala Redenção – Cinema Universitário.


Sala Redenção – Cinema Universitário

Av. Paulo Gama, 110 - Campus Central da UFRGS, Porto Alegre - RS

(51) 3308.30.34


Pais e Filhos (Soshite Chichi ni Naru, Japão, 2013, 121 min) Dir. Hikorazu Koreeda
03 de outubro- segunda-feira – 16h
14 de outubro- sexta-feira – 19h
17 de outubro- segunda-feira – 16h
20 de outubro- quinta-feira – 19h
Um pai descobre que seu filho biológico foi trocado na maternidade com o garoto que ele está criando e precisa escolher entre os dois filhos.

O Sonho de Wadjda (Wadjda, Arábia Saudita/Alemanha, 2012, 98 min) Dir. Haifaa Al-Mansour
03 de outubro- segunda-feira – 19h
04 de outubro- terça-feira – 16h
17 de outubro- segunda-feira – 19h
18 de outubro- terça-feira – 16h
24 de outubro- segunda-feira – 16h
Uma garota entra em uma competição de recitar o Corão na sua escola a fim de conseguir dinheiro o suficiente para comprar uma bicicleta.

Viver é Fácil com os Olhos Fechados (Vivir es fácil com los ojos Cerrados, Espanha, 2013, 108 min) Dir. David Trueba
04 de outubro- terça-feira – 19h
05 de outubro- quarta-feira – 16h
18 de outubro- terça-feira – 19h
19 de outubro- quarta-feira – 16h
Um professor espanhol dirige para Almeria a fim de conhecer John Lennon e no caminho ajuda duas pessoas que fugiram de casa.

Club Sandwich (Club Sandwich, México/França, 2013, 82 min) Dir. Fernando Eimbcke
05 de outubro- quarta-feira – 19h
06 de outubro- quinta-feira – 16h
20 de outubro- quinta-feira – 16h
21 de outubro- sexta-feira – 19h
Uma mãe solteira e seu filho adolescente, do qual tem uma relação muito próxima, estão viajando quando ele encontra uma garota de sua idade e se apaixona.

Hipócrates (Hippocrate, França, 2014, 102 min) Dir. Thomas Lilti
06 de outubro- quinta-feira – 19h
07 de outubro- sexta-feira – 16h
21 de outubro- sexta-feira – 16h
24 de outubro- segunda-feira – 19h
Um médico recém formado começa a trabalhar como residente no mesmo hospital em que seu pai trabalha e precisa confrontar seus medos e limites.

Caminho para o Nada (Road to Nowhere, Estados Unidos, 2010, 121min) Dir. Monte Hellman
07 de outubro- sexta-feira – 19h
10 de outubro- segunda-feira – 16h
25 de outubro- terça-feira – 19h
26 de outubro- quarta-feira – 16h
Realizando um filme sobre um crime real, um diretor contrata uma atriz desconhecida que se parece muito com uma mulher da história.

La Sapienza (La Sapienza, França/Itália, 2014, 101 min) Dir. Eugène Green
10 de outubro- segunda-feira – 19h
11 de outubro- terça-feira – 16h
27 de outubro- quinta-feira – 16h
31 de outubro- segunda-feira – 19h
No auge de sua carreira, um arquiteto vai para a Itália conhecer o local de nascimento de Francesco Borromini, arquiteto famoso do século 17.

Era uma vez em Nova York (The Immigrant, Estados Unidos, 2013, 120 min) Dir. James Gray
11 de outubro- terça-feira – 19h
13 de outubro- quinta-feira – 16h
25 de outubro- terça-feira – 16h
27 de outubro- quinta-feira – 19h
Duas irmãs polonesas vão para Nova Iorque a fim de obter uma vida melhor. Chegando lá, uma fica doente e a outra, para ajuda-la, acaba se prostituindo.

Amar, Beber e Cantar (Aimer, Boire et Chanter, França, 2014, 108 min) Dir. Alain Resnais
13 de outubro- quinta-feira – 19h
14 de outubro- sexta-feira – 16h
28 de outubro- sexta-feira – 16h
31 de outubro- segunda-feira – 16h
Durante os ensaios de uma peça, os membros de uma companhia de teatro descobrem que um amigo próximo está com uma doença terminal e tem poucos meses de vida.


Fonte: Departamento de Difusão Cultural, através de Tânia Cardoso de Cardoso, Coordenadora e curadora da Sala Redenção - Cinema Universitário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário