terça-feira, 21 de abril de 2015
Crítica: A História da Eternidade, através de Marcelo Castro Moraes.
Fonte: www.google.com.br/imagens
Mais uma vez o cinema Pernambucano provando porque é considerado o melhor do nosso cinema nacional atualmente. A História da Eternidade ganhou os prêmios de melhor filme pelo público da 38º Mostra Internacional de São Paulo e melhor filme, direção, ator (Irandhir Santos) e atriz (dividido com as atrizes Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Debora Ingrid) no Festival Paulínia. Estreando como diretor, Camilo Cavalcante foca a trama num pequeno vilarejo no meio do sertão que, aparentemente sem muita importância, mas logo se percebe que ali se guarda muita história para se contar.
Basicamente a trama foca o dia a dia de três mulheres, sendo que cada uma possui uma batalha interna, onde se contem desejos, repressões e sonhos que dificilmente podem ser realizados, mas que mesmo assim não custa nada sonhar. Curiosamente a trama é dividida em capítulos: Pé de Galinha, Pé de Bode e Pé de Urubu, sendo que, se nos aprofundarmos em cada uma das partes, iremos entender que os títulos têm muito haver com o que acontece nas tramas.
Embora sendo estreante, Cavalcante surpreende na criação de cenas das quais cada uma é um verdadeiro mosaico de detalhes. O filme abre com um plano sequência (haverá mais desses planos sem cortes no decorrer do filme) onde a câmera se encontra imóvel e focando um homem embaixo de uma arvore tocando a sua sanfona. Imediatamente surge um cortejo fúnebre de uma criança que veio a falecer e assim partimos para história de uma das três protagonistas.
Nada é explicitamente explicado, sendo que a câmera somente apresenta a história, o que exige maior atenção do cinéfilo que assiste. Aparentemente dá a entender que a criança morta pertencia a Querência (Marcélia Cartaxo), mulher que aparenta os anos em que viveu naquele lugar, se entregando ao luto, mas que começa a receber inúmeras declarações de amor do sanfoneiro cego (Leonardo França). Já a simpática Das Dores (Zezita Matos) recebe a inesperada (e suspeita) visita do neto que, para nossa surpresa, sua vinda acaba despertando desejos sexuais reprimidos dela. Por ultimo, mas não menos importante, temos a adolescente Alfonsina (Débora Ingrid) que possui um desejo compulsivo de conhecer o mar, mas vive presa nos afazeres domésticos da família formada por homens, que por sua vez é comandado por um pai conservador (Claudio Jaborandy). Porém, a garota encontra o seu refúgio particular no universo de arte do seu tio Joãozinho (Irandhir Santos, ótimo) que, por sua vez, faz com que ela tenha fé em visitar o mar um dia. Uma clara referencia ao filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, onde os protagonistas vivem com o desejo de se encontrar com uma parede de mar em meio ao deserto infinito.
Embora a trama gire a todo o momento nas três protagonistas, é realmente o personagem Joãozinho que rouba a cena. Mas isso não é muita surpresa, já que o personagem é interpretado por Irandhir Santos (Tatuagem) considerado por muitos críticos como um dos melhores interpretes do nosso cinema atual. Atenção para a cena em que ele dubla em meio ao vilarejo a canção "FALA" do grupo Secos e Molhados, onde a câmera dá um giro de 360º graus nele e fazendo da cena um dos melhores momentos do filme. Além das tramas que nos encanta, o filme é tecnicamente impecável, onde cada parte técnica cumpre o seu papel, fazendo da obra uma sessão inesquecível. A fotografia granulada e singela de Beto Martins, a trilha sonora que, majestosamente é composta pelos compositores Dominguinhos e Zbigniew Preisner, dá um tom dramático nas cenas e que dificilmente a gente consegue esquecer após os momentos em que é tocada na trama.
Nitidamente fazendo referências a outros clássicos do cinema brasileiro (como Vidas Secas e Pixote), A História da Eternidade é um filme sobre fé, sonhos e desejos que, se não são alcançados, não significa que não podem ser sentidos.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
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