domingo, 30 de agosto de 2015
Crítica: QUE HORAS ELA VOLTA?, através de Marcelo Castro Moraes.
Fonte: www.google.com.br/imagens
São poucos os filmes brasileiros hoje em dia em que escancara a realidade atual de nosso país, que está cada vez mais dividida entre classes. Basta pegarmos os últimos protestos das ruas, para percebemos que a maioria delas é formada por elites que acreditam que podem esmagar aqueles que eles acreditam serem inferiores. Mas não é preciso ir às ruas para assistir esses protestos e perceber isso, pois basta somente reparar na casa do vizinho, ou até mesmo (quem sabe) na sua própria casa.
Moldado para se criar uma trama simples, graças a um maravilhoso roteiro, chega aos cinemas um dos filmes brasileiros mais elogiados e premiados no exterior nos últimos anos, Que Horas ela Volta?. Sucesso por onde é exibido e tendo como uma direção inspirada e original da cineasta Anna Muylaert (Proibido Fumar) o longa-metragem é contagiante do principio ao fim. Para dar corpo e alma para a personagem principal, não há duvidas que a cineasta foi feliz ao escolher a atriz e apresentadora Regina Casé (Eu, tu e Eles), que acabou nos brindando com uma atuação espetacular e que nos contagia desde os primeiros minutos em que ela surge em cena.
Na trama, assistimos a nossa protagonista Val (Regina Casé), uma mulher que vive já há anos com uma família de classe alta em São Paulo. Com uma direção eficiente, já no início do filme temos um vislumbre detalhado da personalidade da Val, da qual nos faz rir e nos emocionar em poucos minutos. Apesar de satisfeita no que faz, Val possui um problema mal resolvido em sua história, sendo que ela tem uma filha chamada Jéssica (Camila Márdila), mas que precisou abandonar há mais de 10 anos. Toda essa mistura de emoções acaba por transbordar, no momento em que Jéssica vem à cidade para prestar vestibular. Como o seu único contato em São Paulo é a sua própria mãe, ela decide visitá-la e passar uns dias naquela casa aonde ela trabalha. A partir desse momento, situações constrangedoras acontecem, mascaras caem e faz com que mãe e filha precisem definir qual é o lugar delas nesse mundo em que vivem.
Orçado em 4 Milhões de reais, esse forte concorrente para disputa de um Oscar ano que vem, escancara para o público cinéfilo as reais situações que acontecem no dia a dia da nossa sociedade brasileira contemporânea, levando muito em conta pelo lado desmotivador senso comum que as pessoas usam, mesmo que vezes nem se quer percebem isso no decorrer do tempo. Val é o exemplo de uma pessoa simples, meiga, que faz o que pode para sempre cumprir o seu trabalho e para nunca desapontar os seus patrões, interpretados respectivamente pelos ótimos Lorenço Mutareli (Cheiro do Ralo) e Karine Teles (Riscado). O seu lado de mãe que ela possui com Fabinho (Michel Joelsas, de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias), filho do casal, em muitas passagens do filme gera muitas emoções. Digamos que Val seja uma quase mãe da qual ele não teve no decorrer da infância e da adolescência e ele é um quase filho do qual ela se distanciou.
No decorrer da trama, há inúmeras situações, das quais se concluem para cada personagem e, querendo ou não, os seus destinos se diferem se comparados com o princípio de cada um deles. Que Horas ela Volta? explicita o significado do termo “cinema como linguagem”, já que há situação da pessoa se sentir livre, quase como uma espécie de recomeçar do zero, para assim buscar a sua redenção pessoal. Bom exemplo disso é a relação da mãe e filha: Val era tão alienada com relação ao mundo em que ela vivia, que precisou da aparição de sua filha, para ela enxergar que a pessoa vive por completo ao lado das pessoas que realmente ama e é então que o desejo de se realizar finalmente vem novamente à tona. É nesse momento que Regina Casé desaparece por completo, pois graças ao seu talento, ela nos brinda com o posicionamento que a sua personagem escolhe, gerando um dos melhores e mais singelos momentos do nosso cinema atual. O final termina em aberto e só fazendo com que a gente desejasse revisitar o universo de cada um daqueles personagens. Uma vez que cada um deles aprendeu uma lição a ser pensada, mas o que resta é saber o que cada um deles aprendeu com ela. Estando entre os oito filmes mais vistos na Itália desse ano, Que Horas ela Volta? é um filme para ser visto por todos, independente de qual a sua classe social, pois no final das contas somos todos humanos e que merecemos um lugar ao sol.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário