segunda-feira, 3 de outubro de 2016
Crítica: O SILÊNCIO DO CÉU, através de Marcelo Castro Moraes.
Fonte: www.google.com.br/imagens
Já no início de O Silêncio do Céu testemunhamos um estupro, onde Diana (Carolina Dieckmann, ótima) é imobilizada e estuprada por dois homens e incapaz de se livrar da experiência traumática. Num determinado momento da situação, Diana foca o teto azul de sua casa, como se naquele ponto ela buscasse uma fuga, um porto seguro longe daquela situação dolorosa. Após esse momento, percebemos que a fotografia azulada, sendo o mesmo azul visto no teto, permeia em todos os cenários no decorrer do filme, como se os personagens quisessem enxergar um céu para eles cheio de harmonia, mas tudo não passa de uma tentativa para esconder uma realidade crua, da qual eles não conseguem fugir.
Dirigido por Marcus Dutra (Trabalhar Cansa), o cineasta ainda tem a proeza de fazer com que retornemos a cena do crime para olharmos com outra perspectiva. Se na primeira vez nós assistimos através do olhar da vítima, na segunda enxergamos pelos olhos do seu marido Mario (Leonardo Sbaraglia, de Relatos Selvagens), que testemunha a cena grotesca, mas que não consegue intervir devido a sua fobia. Ele sabe o que aconteceu, mas espera que a sua esposa conte para ele.
Se enveredando para ideias já vistas em clássicos como Um Corpo que Cai, Marcus Dutra cria uma analise sobre o comportamento do ser humano contemporâneo, onde a hipocrisia se torna um elo de defesa, perante uma realidade da qual a pessoa não consegue enfrentar, mas sim procurando uma forma de encará-la pela surdina. Mario mergulha numa cruzada de redenção, mas não somente em defesa de sua esposa, como também na possibilidade de limpar a honra e matar os seus demônios interiores. Mario, portanto pode ser interpretado de diversas formas, tanto como um machista que, se acha no direito de limpar a imagem da sua pessoa, como também alguém que cria dentro de si um personagem que ele não é ou que está escondido no seu ser. Diana por sua vez representa uma fortaleza na tela, sendo que não busca segurança, mas sim uma forma de tentar manter vivo o que já foi quebrado, mesmo escolhendo o silêncio assim como o seu marido, ela transmite uma posição madura.
Carolina Dieckmann e Leonardo Sbaraglia brilham em seus respectivos papeis, sendo que esse último se sobressai, ao ponto de carregar o filme nas costas em momentos reveladores da trama. Já Dieckmann nos brinda com algo diferente de tudo que já fez na TV, ao representar o papel da mulher forte de hoje perante um mundo machista e perdido sobre as mudanças das quais muitos ainda não compreendem ou não querem aceitar. Essas mudanças e o comportamento da mulher de hoje é o que faz com que os homens da trama agirem como inconsequentes e revelando o seu lado mais sombrio.
Com a participação ilustre de Chino Darin (filho de Ricardo Darin), O Silêncio do Céu é uma crítica ácida contra o comportamento inconsequente do homem, que cada vez se encontra mais perdido perante a complexidade e a independência da mulher contemporânea.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
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