quinta-feira, 29 de outubro de 2015

MCFLY JÁ SABIA! Por Marcelo Andrighetti.




Olá cinéfilo! Olá criador! Tudo bem com você?


Por aqui tudo certo. E hoje vou contar uma história de mistério e fantasia.


Algo que eu aprendi ao longo da minha jornada criativa é que, quanto melhor o autor, melhor e mais profundamente ele desenvolve os personagens de sua obra. Mais ele escreve páginas e páginas que sequer aparecem no filme, livro ou série. São detalhes que estão escondidos ou muito bem camuflados por trás de uma caracterização.

O que pouca gente sabe é que existe uma convenção entre os personagens de todas as histórias. Essa convenção determina que todos eles podem conhecer qualquer história do mundo, desde que se passem no mesmo período de tempo. Romeu (o da Julieta) já visitou Hamlet, por exemplo. Rick Blaine (do Casablanca), teve a oportunidade de bater um papo bem legal com O Grande Ditador (Chaplin). E assim sucessivamente. Ou seja, cada personagem desenvolve uma vida à parte do filme.

Não entendeu?

Vamos a um exemplo da vida real de um personagem.

Quando McFly chegou com o DeLorean em 2015, no De Volta para o Futuro II, ele aproveitou pra visitar alguns personagens e fazer novos amigos. Ele sabia que no dia seguinte (na quinta, dia 22) teríamos estreias pelo mundo. Então, McFly deu uma passada no roteiro de Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma, e conversou com James Donovan em Ponte dos Espiões - inclusive elogiou aqui o Spielberg.

Até que, não se sabe muito bem porque, McFly decidiu dar uma passada no Brasil, em um tal de Vai que Cola, que estava nas salas de cinema.

É difícil definir o verbo que será utilizado neste texto, visto que estamos falando de um personagem do passado que foi ao futuro, mas o futuro é o presente.

Ele quis saber mais sobre a narrativa brasileira. Intrigou a ele o fato de os personagens serem muitas vezes rasos, mal estabelecidos. Ele pensou: “o Bob Gale nunca faria isso comigo!”. Reza a lenda que McFly até ministrou um workshop no Rio de Janeiro, detalhando gênero e subgênero, e dando ênfase ao arco dramatúrgico. A aula foi realizada somente para personagens convidados e subconscientes de alguns roteiristas que dormiam na hora.

Mas por conta desse Workshop, McFly também conheceu filmes como Zoom, a adaptação do argentino Um Namorado para Minha Mulher, e ainda teve a oportunidade de entrar em alguns roteiros ainda em fase de escrita. Conheceu personagens muito bons e aí fez uma reflexão interessante sobre o Brasil.

Percebeu que ainda estamos na engenharia da obra. E teve a maestria de resumir que veio de um lugar onde há anos se estabeleceu padrões e formas. Lá não há mais tanta engenharia. Agora "até temos muita construção", brincou.

Ele elogiou tramas argentinas, que retratavam o país de forma tão universal, e criticou o Brasil que retratava o país para grupos de brasileiros, criando histórias muitas vezes só locais. Chegou a fazer piada ao dizer que os principais gêneros aqui são: "cinema gaúcho, cinema carioca, cinema de paulista, cinema recifense".

E então, deixou o Brasil pra traz dizendo que, se “pudesse entrava no DeLorean e encarava uma viagem a 2030 só para pesquisar os amigos personagens que lá estarão. Prefiro acreditar que ao voltar para o futuro do cinema brasileiro encontrarei algo mais maduro e mais formado, longe de uma dependência do Estado e próximo de uma criação onde mercado e arte estejam alinhados, de maneira que possam se virar muito bem juntas. Só assim personagens como eu seremos felizes para sempre. Mas esta é minha opinião".

E finalizou ressaltando a importância de os roteiristas se tornarem artistas profundamente empenhados com suas obras, deixando de lado o ego, e - ao mesmo tempo - "entender e mergulhar no mercado do cinema como produto". Um equilíbrio saudável para o cinema nacional.

Grande McFly!


Fonte: Escola de Roteiro, através de Marcelo Andrighetti.

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