sábado, 6 de agosto de 2016
Crítica: MÃE SÓ HÁ UMA, através de Marcelo Castro Moraes.
Fonte: www.google.com.br/imagens
No filme “Que horas ela volta?”, a cineasta Anna Muylaert retira as máscaras da relação entre empregada e patrão e escancara o fato de que a sociedade brasileira ainda convive com a hipocrisia, tentando esconder a realidade com relação à divisão de classes que perdura até hoje. A proposta daquele filme pode ser vista também como uma forma de sintetizar os males do Brasil de hoje que, cada vez mais, encontra-se numa situação sem diálogos, com uma promessa superficial e pálida e que nunca dá em nada. Em seu mais novo filme, Mãe só há Uma, a cineasta coloca frente a frente os conflitos de gerações, através da relação entre pais e filhos.
Acompanhamos a história de Pierre (Naomi Nero), um adolescente comum, em fase das descobertas, vivendo com sua mãe (Dani Nefussi) e com a sua irmã mais nova. Certo dia Pierre recebe a bombástica notícia de que sua aparente mãe havia lhe sequestrado, no hospital onde ele nascera e que seus pais verdadeiros Matheus (Matheus Nachtergaele) e Gloria (também interpretada pela atriz Dani Nefussi) estavam a sua procura todo esse tempo. De um dia para o outro Pierre se encontra em uma nova realidade, da qual não sabe ao certo como administrá-la.
Achar o filho ao qual sempre procurou pode soar até fácil, principalmente se for comparado ao peso da situação que virá depois, onde os protagonistas terão que construir uma relação que nunca existiu, e é aí que se encontra o cenário dos mais absurdos, porém humanos, em que os pais biológicos tentam criar um quadro de harmonia a tanto sonhado: a cena em que vemos todos reunidos em um restaurante para comemorar a vinda de um desorientado Pierre, demonstra a total falta de preparo e a falta de sintonia que eles têm com o rapaz. Em meio a esse redemoinho ao qual o protagonista enfrenta, temos também a sub trama de seu irmão mais novo, sendo que esse último não deseja ter uma aproximação com o recém-chegado irmão Pierre. A situação desses jovens simboliza o embate de gerações (pais e filhos), da qual não há diálogos.
O elenco todo encontra-se excepcional, ao começar por Naomi Nero que, mesmo com poucas palavras declaradas, é através da sua expressão de tristeza, fúria e frustração que ele cria para o seu personagem a alma do filme. Porém, não podemos deixar de elogiar a sempre competente interpretação de Matheus Nachtergaele, onde seu personagem tenta ter uma relação paternal com o filho, mas na qual realmente nunca começou. Contudo, a grande surpresa fica por conta do assombroso desempenho da atriz Dani Nefussi, que aqui faz tanto a mãe de criação do protagonista, quanto à mãe biológica, mas com interpretações distintas, onde não percebemos se tratar da mesma atriz.
Com um final aberto em relação ao futuro dos personagens, Mãe só há Uma é um filme chocante e pesado, porém, tratando-se de um dos grandes filmes de 2016 do cinema nacional.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
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