segunda-feira, 29 de agosto de 2016
Crítica: SÃO PAULO EM HI-FI, através de Marcelo Castro Moraes.
Fonte: www.google.com.br/imagens
Em plena ditadura militar havia lugares para as pessoas divertirem-se, sem medo e esquecendo por alguns momentos a repreensão que existia naquele tempo. Em São Paulo em Hi-FI assistimos a um período colorido das noites na cidade de São Paulo, através dos frequentadores de boates para o público LGBT.
Dirigido pelo cineasta Lufe Steffen, acompanhamos depoimentos de pessoas que frequentavam muito esses locais. Os depoimentos variam, entre pessoas desconhecidas e até famosos (como o jornalista Leão Lobo), mas todos possuindo um humor contagiante nos depoimentos e ao mesmo tempo passando uma carga nostálgica, que podemos sentir através das palavras. Não tem como não rir de situações das quais eles narram e fazendo a gente imaginar facilmente essas situações: o depoimento em que é dito que Wilza Carla entrou em uma dessas boates, em cima de um elefante é impagável.
Além dos depoimentos, o filme possui inúmeras cenas de arquivos, dando a entender que havia pessoas que gravavam os seus shows. Pelas cenas, podemos reparar uma verdadeira mistura de cultura, moda e sucesso da época. Era comum, por exemplo, ouvir trilhas de filmes famosos nos estabelecimentos, que iam desde ‘Os Embalos de Sábado a Noite’ a ‘Cabaret’. Aliás, a imagem Liza Minnelli naquele filme pode ser vista aqui, já que inúmeros drag queens daquele tempo sempre prestavam homenagens a ela, assim como outras personalidades famosas daquele período.
O filme não perde muito tempo, em relação ao que acontecia com a política do período. Porém, há passagens do documentário que mostra como a imprensa divulgava essas noites pelos jornais. Começando de uma forma tímida, matérias relacionadas com aqueles estabelecimentos, assim como o comportamento da comunidade LGBT , logo foram ganhando popularidade e se tornando cada vez mais comuns. Isso fez com que muitos saíssem do armário e se darem conta que não estavam sozinhos no mundo.
Infelizmente todo o começo tem um fim. Embora a década de 80 tenha começado bem para as pessoas que frequentavam esses lugares, o final da década estava chegando e com ela à vinda cada vez mais forte da AIDS. Devido à doença, muitos morreram, sofreram preconceito, já que no principio se achava que a AIDS era transmitida somente pelos gays. Se nós ouvimos a palavra “retrocesso” nos dias de hoje, naquele período aconteceu algo muito pior, já que a comunidade LGBT teve que começar tudo do zero, para então ganhar a liberdade e respeito perante uma sociedade que vivia de medo e de ódio.
Com um final melancólico, mas ainda com a mesma aura nostálgica na qual começou o documentário. São Paulo em Hi-Fi é um pequeno registro de noites alegres da cidade de São Paulo, onde todos eram livres, independente da orientação sexual de cada um.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
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