sexta-feira, 12 de agosto de 2016
Crítica: NA VENTANIA, através de Marcelo Castro Moraes.
Fonte: www.google.com.br/imagens
Estreando como cineasta, Martti Held cria em Na Ventania um ótimo exemplo de como é possível pegar determinadas histórias que soam familiares, mas apresentá-las de uma forma diferente e assim parecendo como se elas fossem ainda inéditas para os nossos olhos. Claro que, não basta ser original na forma de filmar, mas também injetar altas doses de sensibilidade e fazendo com que o cinéfilo aceite a forma de se contar a mesma história, de uma forma diferente. O resultado desses ingredientes é um filme com um visual arrebatador e que testa as nossas perspectivas, com relação ao que vamos assistir em seguida.
A trama tem como pano de fundo o panorama histórico da deportação de 40 mil pessoas da Estônia, da Lituânia e da Letônia. Plano secreto de Stalin efetuado em 1941. O plano do ditador era limpar etnicamente, os países bálticos dos seus povos nativos. Erna Tamm, personagem de Laura Peterson, foi uma dessas milhares de pessoas que foram subjugadas pelo regime da União Soviética e a sua história é a que é narrada nesse longa. Esse recorte biográfico é contado a partir da narração em off de Laura Peterson que impõe a interlocução lírica das cartas de Erna Tamm das quais foram destinadas ao marido. Os primeiros minutos do filme contam com imagens de Erna, de seu marido Heldur (Tarmo Song) e de sua filha Eliide (Mirt Preegel) em uma casa de campo na Estônia. Essas imagens surgem como se elas fossem uma recordação. Porém, quando Erna e sua família tornam-se uma das pessoas destinadas aos campos de trabalho forçado na Sibéria, não somente sua vida muda drasticamente, como também à forma que o filme conta a sua história. A partir desse momento, testemunhamos algo poucas vezes visto num filme. É algo similar o que foi visto em filmes como de Lars Von Trier (Anti-Cristo e Melancolia), de uma forma não passageira, mas envolvendo a obra como um todo.
Um dos pontos altos de Na Ventania é sem sombra de dúvida a sua bela fotografia em preto e branco. Porém, como se isso já não bastasse, as cenas a partir da deportação de Erna tornam-se congeladas enquanto a câmera vai entre os personagens em cena, em planos “sequências” arrebatadores e poucas vezes visto no cinema. Isso nos dá o direito de testemunhar inúmeros detalhes em cena, fazendo a gente até acreditar que estamos assistindo somente um quadro sendo filmado, mas que logo percebemos pequenos movimentos dos atores, como o piscar de olhos, assim como o vento que bate em suas roupas. Esse recurso potencializa o lado estético de uma forma implacável no longa, como se ele nos obrigasse a testemunhar cada detalhe de uma história de horror, nua e crua ao qual aquelas pessoas passam. O foco nos olhares e gestos das pessoas vistas em cena, não só nos prende atenção, como também ela nos atinge internamente. Os corpos das pessoas em cena se tornam uma espécie de palco para o nascimento de gestos, como se cada movimento deles fosse uma prova que eles ainda se encontram vivos, mesmo com todas as possibilidades dos cenários onde eles se encontram dizendo ao contrário.
A fotografia em preto e branco, mais o lado estático das cenas, acabam se casando muito bem com a perspectiva que a protagonista Erna possuía naquele momento. Isso se fortalece muito bem quando ouvimos uma das passagens das cartas que ela escreve “A cada noite tudo ao meu redor vira um triste quadro em preto e branco”.
Com pouco mais de uma hora e meia, Na Ventania é uma pequena obra de arte do cinema recente. Aliada a uma bela, mas sombria trilha sonora, o filme ganha contornos cada vez mais líricos no decorrer da projeção, não escapando de uma sensação com relação ao inevitável fim de tudo, porém, recomeço para a personagem central. Um filme sobre fins e começos de uma guerra tola, mas que jamais deve ser esquecida.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
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