segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Crítica: ORESTES, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Atualmente a resposta dos brasileiros contra o crime tem sido muito agressiva, aonde muitos desejam até mesmo a morte de bandidos através do linchamento. Esse assunto, por vezes, se manifesta em alguns casos, como quando ocorrem confrontos entre policiais e (supostos) criminosos e é então quando entra em cena reflexões sobre o que ocorreu realmente nos tempos da ditadura. No mais novo filme de Rodrigo Siqueira (Terra Deu, Terra Come), Orestes constrói um cenário entre ficção e realidade para voltar no assunto com todo o seu lado complexo no decorrer do tempo.

Inspirado na tragédia Oréstia de Ésquilo com o caso do Cabo Anselmo, agente infiltrado que colaborou para a morte de vários militantes nos anos 1970, entre eles sua companheira Soledad Viedma, o filme estabelece e enlaça outros assuntos similares do passado, presente e cria um mosaico de inúmeros debates e reflexões para serem digeridas gradualmente. Das inúmeras opiniões colocadas na mesa, vários envolvidos com a discussão, basicamente divergem de uma defensora de vitimas da violência que procura explicar de uma forma franca os sentimentos de vingança, com o discurso de proteger os inocentes contra os bandidos que devem ser punidos severamente. Nesse ponto, o filme escancara os movimentos de grupos que praticam justiças com as próprias mãos e que acreditam estar acima de qualquer pessoa para praticar tais atos.

Em situações que exploram o lado emocional, as sessões de psicodrama envolvem os mesmos protagonistas, com destaque para a filha de Soledad e suas dores com relação à dúvida quanto a sua paternidade. No nível jurídico, um julgamento fictício protagonizado por dois advogados põe em debate a culpabilidade de um Orestes fictício que, é baseado no caso de Anselmo e Soledad, e por extensão o perdão aos torturadores facultado pela Lei da Anistia. As cenas filmadas de São Paulo, aonde focam um urubu voando e depois por um helicóptero policial que representa esse assunto e o transforma num verdadeiro estudo sobre as pulsões latentes na sociedade do passado e de hoje.

Em certo momento do longa, um dos personagens, sobrevivente da ditadura, diz: “Tive que procurar ajuda profissional para arrumar minha cabeça porque eu ia pirar. A questão não era o torturador que me machucou. É o torturador que tinha dentro de mim”. Os padrões de comportamento que são repetidos podem também ser fruto do que em psicologia chamamos de reforço positivo. Aquele que é achacado, assim que mudar de posição, não perderá a chance de dar o troco.

Nesse particular, Rodrigo, que dirigiu e escreveu o documentário, faz importante crítica à Lei da Anistia, que ao perdoar os crimes, chancela a impunidade e deixa livre a possibilidade de que os tais padrões de comportamento continuem acontecendo. A revisão da lei da Anistia proposta pela OAB foi rejeitada pelo STF, ainda em 2010, sob a justificativa de que, “devemos olhar para o futuro não para o passado”, nas palavras de Marco Aurélio Mello. A instância máxima da Justiça falava em transição democrática pacífica. O perdão aos torturadores trouxe uma carga emocional fortíssima para os violados e não propiciou a transição. Ainda vivemos em uma ditadura. Mas, as vítimas e os motivos mudaram.

Embora sendo exibido num circuito restrito, Orestes é um documentário para ser visto por todos, onde nos coloca de frente com o melhor e o pior de nós e resta somente você descobrir quais desses dois lados você mais alimenta.



Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário