domingo, 9 de abril de 2017

Crítica: Era o Hotel Cambridge, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Dirigido pela cineasta Eliane Caffé (Narradores de Javé), a trama retrata o dia a dia do movimento FLM (Frente de Luta pela Moradia) que ajuda abrigar um grupo sem teto e refugiados de outros países num velho edifício abandonado. Além de assistirmos o dia a dia de alguns personagens que moram na ocupação, acompanhamos também a aflição de muitos, pois eles receberam a noticia que precisam se retirar do local por ordem do governo. Segue então a união e luta dessas pessoas perante o inevitável e tentando de todas as formas não cederem perante a opressão. Uma vez apresentado o cenário dos eventos que irão acontecer no decorrer do filme, a câmera de Caffé segue andando pelos corredores do prédio, como uma espécie de registro documental e para então termos a chance de fazermos uma analise sobre o que acontece nessa ocupação. Uma vez que os moradores reais dividem espaço com atores em cena, se apresenta então inúmeras subtramas, mas das quais cada um passa uma verossimilhança convidativa e da qual a gente se identifica com ela, mesmo para aqueles que nunca tenham passado numa situação parecida. Nada é forçado, mas sim convidativo, como se a câmera de Caffé fosse os nossos olhos, para então adentrarmos todos juntos nesse mundo pouco explorado pelos principais meios de comunicação.

No elenco, José Dumont, Suely Franco e Paulo Américo estão ótimos em seus respectivos papeis, bem como os amadores saídos de oficinas com moradores, como Carmem Lucia, líder do MSTC, sendo ela mesma na trama. Aliás, Lucia é que realmente rouba a cena do filme, pois ela é a principal voz da daquela comunidade, da qual necessita de uma força para seguirem em frente e não desistir perante os obstáculos que virão a seguir. É de se impressionar, por exemplo, a cena em que ela conduz inúmeros moradores para o prédio antes da policia chegar, sendo uma sequência na qual ficamos nos perguntando se ela é fictícia ou verídica, já que não é muito diferente do que ela já enfrentou em sua cruzada, em defesa dessas pessoas.

O ato final nos reserva pura tensão, já que ele começa com um determinado personagem principal lendo os comentários intolerantes pela internet contra as ocupações, para logo depois testemunharmos a policia de São Paulo armada até os dentes e indo contra os moradores. O filme não poupa críticas contra o sistema, no qual cada vez mais se vende ao mundo capitalista e fazendo do socialista uma espécie de inimigo número um do estado. Devido a isso, temos cenas aterradoras de policiais disparando bombas de gás contra pessoas desarmadas. Essa sequência é desde já o ápice do filme, já que ela é uma síntese da imagem da força policial opressora, na qual é comandada pelo estado da direita atual.

Com cenas finais esperançosas, nas quais mostram as bandeiras do movimento FLM nos inúmeros prédios ocupados na cidade de São Paulo, Era o Hotel Cambridge é um filme sobre a resistência do Brasil de hoje.


Trailer

Fonte: www.youtube.com

Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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