sábado, 19 de setembro de 2015
Crítica: HOMEM COMUM, através de Marcelo Castro Moraes.
Fonte: www.google.com.br/imagens
Há pessoas que possuem vidas fascinantes, onde a realidade e ficção por vezes se confundem. Claro que há histórias de vidas humildes que, nada oferecem para a história da humanidade, mas que não são menos do que fascinantes. Em maior ou menor grau, as vidas das pessoas são mais do que genuínas, são na realidade, universos particulares e cheios de detalhes, das quais nenhuma câmera cinematográfica pode registrar elas como um todo. Durante 20 anos, Carlos Nader (Eduardo Coutinho, 7 de Outubro) se dispôs a interpelar homens comuns com questões metafísicas: “A vida faz sentido para você?” - “A vida te parece estranha?”, perguntas como essas foram feitas ao caminhoneiro Nilson e, a partir da resposta inicial dele, Nader passou a registrar a trajetória desse homem e de sua família.
Durante essas duas décadas, o cineasta acompanhou nascimentos, mortes e viu a debilidade alcançar o corpo de Nilson. Ao mesmo tempo, Nader foi engenhoso, ao criar um paralelo aos acontecimentos de Homem Comum com trechos do clássico A Palavra, de Carl Th. Dreyer, um filme em preto e branco e de muita beleza. O longa dinamarquês trata sobre a morte, mas indo além, abordando a dificuldade em aceitar a vida em toda a sua estranheza em seu percurso. Seria capaz o homem de vencer Deus e superar a morte? No cinema, pelo menos isso acontece, mas em até certo ponto é claro!
Nader vai mais além, ao registrar Nilson desembarcando porcos para um abate. Não há como não ficar aflito pelo destino de cada um deles, pois o cineasta não hesita em focar os olhares de tristeza e apreensão que os animais estão sentindo naquele momento. Se para o homem existem conflitos e dúvidas com relação à vida e a morte que, é colocado em cheque durante o documentário, o que sobra para esses animais que não pediram para estarem ali?
A ligação do mundo real com a vida fantástica ainda se desdobrará num terceiro momento, uma vez que Nader refaz de modo pessoal, determinadas sequências da obra de Dreyer. Essa terceira camada amplia ainda mais o Homem, uma vez que se torna possível reescrever grandes obras que já foram dadas como definitivas. Acima de tudo, Homem Comum é um filme sobre a fé ou da falta dela e que tenta registrar o que leva as pessoas a seguir em frente, mesmo quando a vida não faz nenhum sentido. Talvez cada ser deste mundo tenha uma missão, resta saber qual ela seria. O importante é deixar algo de bom exemplo para aqueles que continuam e provando que sua vida não tenha sido em vão.
Mesmo com pouca duração, se percebe que Nader criou um filme com tamanha complexidade e rara inteligência, da qual infelizmente, não se encontra muito hoje em dia no nosso cinema.
Trailer
Fonte: www.youtube.com
Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.
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