quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Crítica: Grandes Olhos, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Tim Burton é um cineasta autoral que, não mede esforços para injetar a sua visão pessoal, com relação ao mundo em que vive na criação dos seus filmes. Infelizmente ele trabalha numa indústria, em que as engrenagens são movidas pelo dinheiro e, portanto nem sempre ele possui total liberdade criativa. Alternando em produções milionárias onde não consegue fazer o filme que gostaria (Alice no País das Maravilhas) e filmes menores onde mostra toda a sua genialidade (Ed Wood), Burton talvez seja um dos poucos cineastas autorais americanos, que sabe na pele como deve agradar um pouco de cada lado e assim conseguir carta branca, para fazer o filme que deseja.

Essa briga pelo direito de manter intacta a sua identidade própria no mundo em que vive é vista muito bem nesse pequeno, mas tocante filme intitulado Grandes Olhos. Estamos na virada dos anos 50 para os 60, onde o homem ainda se mantém como o ser dominante de uma sociedade hipócrita e escondida num quadro azul e cor de rosa. As mulheres em si possuem o seu talento escondido, mas pela falta de coragem de saírem do armário, acabam se se tornando submissas pelo lado mesquinho do sexo masculino.

Margaret Keane (Amy Adams) tem talento vindo de sua mente e que desce para os dedos, no momento que começa a pintar belas imagens de crianças com grandes olhos que, nada mais são, do que uma representação da sua forma como enxerga o mundo. Uma mulher a frente do seu tempo, mas que infelizmente ainda acredita que necessita de um homem e com isso, cai nas garras do salafrário Walter (Christoph Waltz) e se casando com ele. Se dizendo um artista, não demora muito para Walter se dizer o verdadeiro autor das obras de Margaret que, por sua vez, não desmenti e acaba se tornando então um mero fantoche.

Embora seja apenas um caso, é talvez um de muitos parecidos que tenham acontecido no decorrer de décadas mais conservadoras. Margaret é uma representação da mulher amarrada por regras criadas pelos homens do seu tempo, numa época em que a revolução feminina ainda era um sonho distante. Embora seja mulher, Margaret é uma representação do próprio Tim Burton, que ama o que faz, mas sempre luta para ter o direito de ir e vir como bem entender em sua carreira e chega um ponto que talvez a água transborde para fora do copo.

Visualmente, o filme é uma reconstituição perfeita de uma época mais dourada, lírica, mas que o cineasta faz questão de não esconder o seu lado hipócrita. Gradualmente esse mundo de utopia criada pela sociedade norte americana, vai dando lugar a uma realidade mais crua, no momento que Margaret começa a comandar as rédeas de sua vida e de sua obra. Claro que Walter não dá o braço a torcer e ambos vão a julgamento pelos direitos autorais.

Amy Adams e Christoph Waltz estão ótimos em seus respectivos papeis. Se a primeira transmite talento e doçura através dos seus olhos, Waltz transforma o seu Walter num vilão caricato, porém divertido, mas que ao mesmo tempo sentimos nojo nos momentos em que ele controla as cordas para fazer de Margaret a sua marionete. Ambos os talentos duelam de igual para igual no ato final, nos brindando com momentos sublimes e hilários.

Se hoje ficamos arrasados por vermos que ainda há países no oriente médio que tratam as suas mulheres como gado, Grandes Olhos vêm para nos dizer que houve sim tempos difíceis para as mulheres que viveram no ocidente. Mulheres com talento em abundância, mas presas por regras impostas pela sociedade e a igreja conservadora. Tim Burton nunca foi tão feminista como agora.


Trailer

Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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