sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Crítica: O FILHO DE SAUL, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Em filmes recentes, como Quarto do Jack ou o filme O Regresso, o protagonista se prende no amor ou na vingança e faz disso uma forma de se manter vivo para assim alcançar os seus objetivos. Isso faz com que o personagem não se enfraqueça perante os obstáculos, pois às vezes o mundo em volta é deveras traiçoeiro. Nesse filme Húngaro, O Filho de Saul, a muleta para manter o protagonista ainda respirando em meio ao horror é por vezes surreal, mas ela funciona para fazê-lo seguir em frente, mesmo por mais absurdo que seja, pois a sua própria realidade em volta já se encontra terrivelmente desoladora.

A trama é simples: Saul (Géza Röhrig) é um judeu que trabalha num campo de concentração, sendo que o seu principal trabalho é limpar as salas de cremação onde se encontram restos mortais de inúmeros judeus. Entre os inúmeros cadáveres que ele encontra pela frente em uma das salas de cremação, ele encontra um corpo de uma criança, da qual ele começa acreditar que seja o seu filho começando então uma luta pessoal para ele dar um fim digno ao corpo. Gradualmente, percebemos que o protagonista usa essa situação, para manter-se vivo, ou então buscar uma redenção pessoal. Mais de que uma jornada de um homem em meio ao horror é uma jornada para manter a mente sã, para assim não enlouquecer. Motivos para desistir de tudo não faltam no decorrer da obra, o que faz dela angustiante perante aos nossos olhos.

Assim como em filmes recentes, como o já citado O Regresso, o diretor estreante László Nemes cria inúmeros planos sequências, sendo que a câmera jamais tira o foco do seu protagonista. Porém, o cineasta impressiona na forma em que ele filma, onde a câmera sempre se encontra atrás de Saul, ou focando cada detalhe de sua expressão no decorrer do filme. Devido a isso, a câmera se torna uma espécie de nossa representação, ou seja, como se estivéssemos indo atrás do protagonista, enquanto ele testemunha o inferno na terra. Falando nisso, o cineasta não poupa o cinéfilo com as cenas do campo de concentração e seus crematórios. Porém, por mais explicita que sejam as cenas, László Nemes foi habilidoso em filmar a maioria delas fora de foco e fazendo com que não tenhamos um verdadeiro soco no estômago. Contudo, nós sabemos o que está acontecendo, pois basta ver, mesmo fora de foco, uma montanha de corpos e que, quando não sabemos o que há em cena, a expressão do protagonista já nos diz tudo.

Géza Röhrig (Saul) praticamente carrega o filme nas costas, pois jamais a câmera lhe abandona, mas quando isso acontece, é para somente focar algo importante que irá acontecer em cena. Não faltam logicamente momentos angustiantes, dos quais ficamos apreensivos com relação ao destino do protagonista. A cena em que ele presencia os soldados nazistas fuzilando judeus e os jogando numa vala é aterradora. Com sequências como estás, compreendemos então a mente do protagonista e os motivos que o levam a agir de uma forma tão imprevisível. O ato final reserva momentos surpreendentes, onde a sua luta para alcançar o seu objetivo o leva para um caminho sem volta. O final, aliás, não nos deixa reconfortados, pois os eventos da trama continuam em nossas mentes, mesmo quando eles aparentemente se encerram no último quadro.

O Filho de Saul é uma experiência perturbadora e inesquecível, mesmo revisitando o cenário do holocausto, que foi tantas vezes visto e revisto no cinema mundial.


Trailer

Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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