domingo, 12 de junho de 2016

Crítica: UMA NOITE EM SAMPA, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Dependendo do seu conteúdo, um filme pode possuir inúmeras interpretações, das quais cada um que assiste pode tirar as suas próprias conclusões. É o caso agora de Uma Noite de Sampa, novo filme do cineasta Ugo Giorgetti (Cara ou Coroa) que, mesmo em pouco mais de uma hora de duração, a produção possui inúmeras camadas de interpretações. Se formos mais longe, o filme pode ser interpretado como uma metáfora da sociedade brasileira atual. Sociedade se encontra cada vez mais presa devido ao medo da violência suburbana e dos estereótipos criados pelo dia a dia. Talvez Uma Noite Sampa sinalize por algo que vai muito além do que isso. A proposta do cineasta que, há quem diga, sempre enxergou São Paulo com um olhar de dúvida, injeta aqui uma inspiração vinda do clássico O Anjo Exterminador do mestre Luis Buñuel. Naquele clássico, Buñuel retrata inúmeros personagens da alta burguesia, sendo impedidos de sair da sala principal de um casarão, por algo que eles próprios não conseguem explicar. É mais ou menos isso então que acontece em Uma Noite em Sampa: após assistirem a um espetáculo teatral, um grupo que veio do interior, sendo alguns ex-moradores de São Paulo, ficam á espera do motorista do ônibus, que inexplicavelmente desaparece do local e fazendo com que o grupo fique a mercê do lado de fora do ônibus em plena noite escura. A longa jornada de espera na frente do veículo logo vai descascando os medos que cada um ali guarda para si, não somente da violência que ocorre na grande metrópole, como também por possuírem receios perante aos drogados, sem tetos e figuras solitárias e estranhas que surgem no decorrer da noite.

Embora o filme tenha sido feito há pouco tempo, ele possui na realidade um clima meio retro, que sintetiza todo o clima de incerteza e medo que o Brasil vive atualmente. É ai que chego ao início do texto, já que a obra possui muito mais conteúdo do que apenas o que a gente vê na tela. Assim como foi visto em seus filmes anteriores, Ugo Giorgetti sabe como ninguém retratar de uma forma simples, porém crua, a divisão de classes que se encontra em nossa sociedade. Infelizmente as pessoas se acostumaram a ficar presas ao estereótipo, pelo qual se criam os medos, sem uma razão aparente. Nos momentos finais do filme, por exemplo, uma personagem cega dá um exemplo digno de nota, mostrando para aquelas pessoas que tem o dom da visão, que elas não enxergam além do que os seus olhos podem ver.

Com um grande time de atores do teatro paulistano, como Fernanda Garrafa, Cris Couto, Maria Stella Tobar, Roney Facchini, Thaia Perez (que está no elenco de Aquarius) e Suzana Alves (sim, a Tiazinha), Uma Noite em Sampa vêm demonstrar os nossos retrocessos do dia a dia. Retrocessos demonstrados através dos nossos medos internos, que acabam por gerar infinitos preconceitos. Enfim! ‘Uma Noite em Sampa’ é uma obra para poucos entendedores.


Trailer

Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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