terça-feira, 25 de junho de 2013

Em julho, a Sala Redenção – Cinema Universitário retoma sua programação, e para abrir o mês, será exibida a Mostra Federico Fellini.

Em julho, a Sala Redenção – Cinema Universitário retoma sua programação, trazendo boas novidades. Para abrir o mês, exibiremos a Mostra Federico Fellini, com 19 filmes do cultuado diretor italiano. Fellini, que nasceu em janeiro de 1920, foi um grande contador de histórias. Como realizador rejeitou desde muito cedo o cinéma verité em favor daquilo que ele chamava de cinema-falsidade. Em seu trabalho, tudo e nada é autobiográfico. Para ele, as memórias da vida real e as fantasias dos filmes são claramente intercomunicáveis. Aos nove anos já fazia espetáculos com marionetes feitas à mão. Foi cartunista, escritor de crônicas e textos publicitários, trabalhou como jornalista, entrevistando atores e diretores. Trabalhou também com Roberto Rossellini em Roma, cidade aberta (1945) e em vários outros projetos deste diretor. Inicia seu trabalho como realizador em 1950, junto a Alberto Lattuana, em Mulheres e Luzes (1950), que narra à história de um grupo de artistas vaudeville. Realiza e co-escreve, a convite do produtor Luigi Rovero, Abismo de um sonho (1952), filme estruturado em três atos que gira em torno de um casal provinciano recém-casado, em lua de mel em Roma. Nestes dois filmes o equilíbrio perturbador entre fantasia e realidade, entre ilusão e desilusão já se faz presente. Os boas-vidas (1953) trata de um grupo de boêmios, que leva uma vida vazia em uma pequena cidade. Encontramos em tal filme, imagens que serão recorrentes em filmes futuros, como a praça deserta, o mar e as grandes multidões. Este é seu primeiro filme de projeção internacional, premiado no Festival de Veneza. Nos anos 1950, três longas marcariam a carreira de Fellini: A Estrada da vida (1954), A trapaça (1955) e Noites de cabíria (1957) –muitas vezes citados como a tríade da redenção. Há uma forte presença de simbolismos católicos ao longo dos filmes e, por esse fato, muito críticos atribuem a importância da “trindade” nos personagens centrais: a mente, o corpo e a alma. A estrada da vida foi um grande sucesso de público, ganhando o Leão de Prata do Festival de Veneza e o primeiro Oscar de melhor filme estrangeiro, entre vários outros prêmios. Se os filmes de “redenção” de Fellini refletiam ainda uma dívida do realizar com o neorrealismo, na próxima década os seus filmes tornam-se cada vez mais pessoais no tema e mais extravagantes no estilo. Em A doce vida (1960), Fellini explora a necessidade coletiva que a cidade tem de um processo de regeneração. É nesse momento que Marcelo Mastroianni torna-se o alter ego cinematográfico de Fellini, estabelecendo uma relação semelhante a que François Truffaut desenvolveria com Jean-Pierre Léaud. Com um grande êxito de bilheteira o realizador pode montar sua própria companhia de produção, a Federiz. A doce vida é premiado em Cannes e o realizador se torna o primeiro estrangeiro a ser nomeado para a categoria de melhor diretor no Oscar. Felllini 8 ½, (1963) seu próximo filme, nasce de uma crise interna do diretor e o longa trata justamente da vida de um realizador que já não sabe que filme quer fazer. 8 ½, se tornaria uma ode de Fellini ao cinema assim como O desprezo, de Jean- Luc Godard e A noite americana, de François Truffaut. Julieta dos espíritos (1965) será realizado depois do sucesso do último filme, em homenagem à sua mulher. Este filme é visto como o companheiro feminino de Felllini 8 ½, já que a personagem feminina também passa por uma crise que a obriga a confrontar seus medos. Como em A doce vida, o filme foi estruturado como uma série de sequências visuais fantásticas, e não como uma narrativa tradicional. Satyricon de Fellini (1969), filmado entre os anos de 1968-69, reflete o espírito de liberdade da época. Considerado uma “extravagância surrealista”, no Satyricon de Fellini tudo vale. Como A doce vida, o filme também é uma crítica à sociedade romana da época. Com Os palhaços (1970), o realizador monta um “mosaico afetuoso” sobre a vida no circo, dividido em três seções. O filme trata aparentemente de um documentário sobre uma equipe de filmagens que faz um documentário. Como em Felllini 8 ½, entretanto, nunca vemos o “filme dentro do filme”. Até os anos 1970, muito dos filmes de Fellini refletiram sobre seu fascínio sobre Roma, cenário da maior parte deles. Em Roma de Fellini (1972), o diretor conjuga, como sempre, dados biográficos com elementos de documentário para tratar de suas impressões sobre a cidade. Este longa é um “tributo-colagem” à cidade de Roma e de como ela é vista pelos turistas, pelos recém-chegados, pelos que nela habitam e, sobretudo, pela equipe de filmagem. Ao mesmo tempo é uma viagem pelo mundo do imaginário e uma declaração de amor à cidade. Em Armarcord (1973) o realizador explora várias histórias que traz na memória de sua juventude e é considerado o seu último grande sucesso comercial. Foi escolhido para abrir o Festival de Cannes de 1973 e ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Após a realização de um filme sobre as memórias de sua infância, o diretor dirige seu foco para uma das figuras mais famosas da Itália. O Casanova de Federico Fellini (1976) é uma versão muito pessoal do diretor a respeito do amante latino, originário do século das Luzes. Tal visão, no entanto, não agradou o público e muito menos a crítica. Seu próximo filme será Ensaio de orquestra (1979), uma curta parábola sobre uma orquestra anárquica, filmado em apenas 15 dias, usando apenas um único cenário e considerado o menos felliniano de todos os filmes realizados pelo diretor. A cidade das mulheres (1980) marca o retorno de Fellini a temas que lhe são bem familiares, como o voyerismo, o sexo, a fantasia e o mundo dos sonhos – e mais uma vez Mastroianni aparece como seu alter ego. Nos anos 1980, depois de ter realizado vários filmes sobre a indústria cinematográfica, ele volta sua atenção para a grande ópera no E la nave va (1985). O longa, que traz um retrato da alta sociedade (no convés) e dos trabalhadores que estão no porão a sustentar o navio é um verdadeiro microcosmo da sociedade. Com seu filme seguinte, Ginger e Fred (1986), ele apresenta uma crítica irônica sobre o mundo da televisão, com seus programas de variedades repletos de anúncios, e sobre o poder magnético das celebridades. Em 1987, realiza Entrevista, prestando um tributo à sua fábrica de sonhos pessoal que completava 50 anos: a Cinettà. Realizaria ainda, A voz da lua (1988), único filme citado que não está presente nesta mostra. Federico Fellini morreu no dia 31 de outubro de 1991. No mês de julho a Sala redenção – Cinema Universitário dedica a sua programação ao grande realizador italiano, aquele que soube melhor do que ninguém contar histórias sobre os grandes e pequenos, sobre as celebridades e os anônimos, sempre com sonho, magia e humor.

* Texto escrito a partir do livro: WIEGAND, Chris. Federico Felinni: mestre-de-cerimónias de sonhos 1920-1993. Los Angeles, Itália: Taschen, 2003.

Tânia Cardoso de Cardoso, curadora da Sala Redenção – Cinema Universitário


O Quê: Mostra Federico Fellini

Quando: 01 a 31 de julho

Onde: Sala Redenção – Cinema Universitário (Rua Eng. Luiz Englert, s/n., Campus Central UFRGS

Quanto: Entrada Franca


Acompanhe! A Programação da Mostra Federico Fellini:

Mulheres e luzes (Luci del varietà, Itália, 1950, 93 min) dir. Federico Fellini
01 de julho – 2ª feira – 16h
05 de julho – 6ª feira – 16h

Mulheres e Luzes marca a estreia na direção de Federico Fellini, em parceria com o cineasta neorrealista Alberto Lattuada (Sem Piedade). A história gira em torno de uma trupe de saltimbancos, que percorre a Itália no início dos anos 50, liderada pelo carismático Checco (Peppino De Filippo, de Os Boas-Vidas). Certo dia, Liliana, uma bela jovem do interior, começa a fazer de tudo para entrar na companhia, provocando ciúmes em Melina (Giulietta Masina, de Noites de Cabíria) e discórdia no resto do grupo.


Abismo de um sonho (Lo sceicco bianco, Itália, 1952, 90 min) dir. Federico Fellini
01 de julho – 2ª feira – 19h
02 de julho – 3ª feira – 16h

Recém-casados, Ivan (Leopoldo Trieste) e Wanda (Brunella Bovo) viajam a Roma para passar a lua-de-mel. Enquanto Ivan conhece a cidade com alguns parentes, Wanda sai em busca de seu maior sonho – conhecer o Sheik Branco (Alberto Sordi, de Os Boas-vidas), herói de sua fotonovela favorita.


Os boas-vidas (I Vitelloni, Itália, 1953, 109 min) dir. Federico Fellini
02 de julho – 3ª feira – 19h
03 de julho 4ª. feria – 16h

Numa pequena cidade da Itália, cinco jovens amigos são típicos vitelloni (inúteis): vivem uma vida boêmia repleta de bebidas e mulheres. Sem perspectivas, cada um deles encontra um modo de escapar da monotonia da vida provinciana.


A estrada da vida (La Strada, Itália, 1954, 100 min) dir. Federico Fellini
05 de julho – 6ª feira – 19h
08 de julho – 2ª feira – 16h




Giulietta Masina vive a ingênua Gelsomina, vendida por sua miserável mãe para Zampanò (Anthony Quinn), um artista que se apresenta arrebentando correntes. Gelsomina passa a ajudar Zampanò em suas exibições.


Noites de Cabíria (Le Notti Di Cabiria, Itália, 1957, 117 min) dir. Federico Fellini
08 de julho – 2ª feira – 19h
10 de julho – 3ª. Feira – 16h

Prostituta vivendo nos arredores de Roma tenta acreditar na boa fé das pessoas, mas acaba sempre levando a pior. Clássico em estilo neorrealista com roteiro a oito mãos incluindo Fellini e um jovem Pasolini, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro. Giulietta Masina interpreta Cabíria, uma prostituta que ganha à vida nas ruas de Roma em meados dos anos 50.


A doce vida (La Dolce Vita, Itália, 1960, 173 min) dir. Federico Fellini
09 de julho - 3ª feira – 19h
10 de julho – 4ª feira – 16h

O jornalista Marcello (Marcello Mastroianni) vive entre as celebridades, ricos e fotógrafos que lotam a badalada Via Veneto. Neste mundo marcado pelas aparências e por um vazio existencial, freqüenta festas, conhece os tipos mais extravagantes e descobre um novo sentido para a vida.


A trapaça (Il bidone, Itália, 1955, 104 min) dir. Federico Fellini
11 de julho – 5ª feira – 16h
12 de julho – 6ª feira – 16h

Augusto, Picasso e Roberto (interpretados por Broderick Crawford, Richard Basehart e Franco Fabrizi) interpretam um trio de trapaceiros que aplica golpes em gente simples. Picasso quer levar uma vida honesta; Roberto quer uma vida de prazeres. Augusto, já envelhecendo, começa a repensar suas trapaças quando encontra sua filha, que precisa de dinheiro para completar os estudos.


8 e Meio (8 ½, Itália, 1963, 145 min) dir. Federico Fellini
12 de julho – 6ª feira – 19h
15 de julho – 2ª feira – 16h




Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Fellini 8 ½ conta a história de Guido (Marcello Mastroianni), um cineasta em crise de inspiração, que não consegue encontrar a ideia para seu próximo filme. Durante uma temporada de férias, é assombrado por sonhos e recordações de passagens marcantes de sua vida.


Julieta dos espíritos (Giulietta degli spiriti, Itália, 1965, 148 min) dir. Federico Fellini
15 de julho – 2ª feira – 19h
16 de julho – 3ª feira – 16h

Julieta dos espíritos foi o primeiro filme em cores do mestre Federico Fellini, que o dedicou à sua esposa, a inesquecível Giulietta Masina (Noites de Cabíria). Ela vive uma mulher que, ao descobrir a traição do marido, começa a ser acometida por visões, dando início a uma jornada de autodescoberta em que os sonhos se misturam à realidade.


Satyricon (Fellini Satyricon, Itália, 1969, 128 min) dir. Federico Fellini
16 de julho – 3ª feira – 19h
17 de julho – 4ª feira – 16h

Esta é a livre adaptação de Fellini da famosa peça de Petronius, que faz uma crônica da vida na Roma antiga. Encolpio (Potter) e seu amigo Ascilto (Keller) disputam o afeto do jovem Gitone (Max Born). Quando Encolpio é rejeitado, ele começa uma jornada na qual encontra todos os tipos de pessoas e de acontecimentos, entre eles uma orgia e um desfile de prostitutas na Roma antiga.


Os palhaços (I Clowns, Itália, 1970, 90min) dir. Federico Fellini
18 de julho – 5ª feira – 16h
19 de julho – 6ª feira – 16h

Federico Fellini revisita o universo circense e produz um documentário inesquecível sobre a figura mais importante do espetáculo: o palhaço. O próprio Fellini acompanha a equipe de filmagem, como fez na sua obra-prima, Roma. Entrecortado com números repletos de palhaços em ação, o filme resgata um pouco da história do circo ao mesmo tempo em que comprova sua decadência, com depoimentos de palhaços famosos no passado, mas esquecidos nos dias atuais.


Roma de Fellini (Roma, Itália, 1972, 128 min) dir. Federico Fellini
19 de julho – 6ª feira – 19h
22 de julho – 2ª feira – 16h

Um passeio pela capital italiana ao encontro de sua arquitetura, de sua personalidade, de seus moradores e seus hábitos, de seus mistérios subterrâneos, de sua vida noturna trepidante. Tudo sob o olhar cínico e peculiar do famoso diretor, que mistura passagens autobiográficas com cenas do cotidiano da Roma.


Amarcord (Amarcord, Itália, 1973, 125 min) dir. Federico Fellini
22 de julho – 2ª feira – 19h
23 de julho – 3ª feira – 16h

Amarcrod é uma história fascinante e dramática, às vezes humorística, sobre a vida de um homem que em pleno ano 2000, descobre que todo o mundo a sua volta parece estranho. Despreparado e surpreso, ele sai numa busca febril por algumas coisas que o faça retornar a realidade, antes que seja tragado pela loucura. E, assim, envolve-se em inúmeras situações do cotidiano, levando-nos a pensar na própria vida que levamos.


O Casanova de Federico Fellini (Il Casanova di Federico Fellini, Itália, 1976, 169 min) dir. Federico Fellini
23 de julho – 3ª feira – 19h
24 de julho – 4ª feira – 16h

Donald Sutherland interpreta o lendário sedutor do século 18, Casanova, um dos maiores amantes do século 18. Libertino, o conquistador gostava de demonstrar suas façanhas na arte de seduzir as mulheres.


Cidade das mulheres (La città delle donne, Itália, 1980, 138 min) dir. Federico Fellini
25 de julho – 5ª feira – 16h
26 de julho – 6ª feira – 16h

Durante uma viagem de trem, Snàporaz (Marcello Mastroianni) é seduzido por uma bela mulher. Seguindo-a, ele acaba vivendo uma fantasia, metade sonho, metade pesadelo; na cidade das mulheres, por ser o único homem, é ao mesmo tempo reverenciado e julgado.


Ensaio de orquestra (Prova d’orchestra, Itália, 1979, 70 min) dir. Federico Fellini
26 de julho – 6ª feira – 19h
29 de julho – 2ª feira – 16h

Numa capela romana, agora um oratório, músicos chegam para um ensaio. Eles são avisados que estão sendo gravados por uma rede de TV. Então, o maestro alemão chega, impondo ordem aos gritos. Durante um breve intervalo, o maestro concede uma entrevista aos jornalistas. Quando volta, encontra sua orquestra em estado de revolta.


E la nave va (E la nave va, Itália, 1985, 128 min) dir. Federico Fellini
29 de julho – 2ª feira – 19h
30 de julho - 3ª feira – 16h

Julho de 1914. Glória N, um luxuoso navio, deixa a Itália, levando as cinzas de uma célebre cantora lírica para sua terra natal, a ilha de Erimo. Cantores, músicos, amigos, nobres e um jornalista acompanham o funeral. A normalidade dos primeiros dias de viagem é interrompida quando o capitão tem de socorrer refugiados da recém-declarada Primeira Guerra.


Ginger e Fred (Ginger & Fred, Itália, 1986, 125 min) dir. Federico Fellini
30 de julho – 3ª feira – 19h
31 de julho – 4ª feira – 16h

Um programa de televisão reúne os veteranos dançarinos Amelia (Giulietta Masina) e Pippo (Marcello Mostroianni) para apresentarem um número musical, em que imitam a imortal dupla Fred Astaire e Ginger Rogers.


Entrevista (Intervista, 1987, 107min) dir. Federico Fellini
31 de julho – 4ª feira – 19h

Em Entrevista, Fellini faz uma irreverente e nostálgica incursão através dos vários personagens criados por ele ao longo de sua carreira. Ao mesmo tempo, o filme é uma viagem que marca a desolação pelo futuro do cinema diante da concorrência impiedosa da televisão.


Fonte: Sala Redenção – Cinema Universitário, através de Tânia Cardoso de Cardoso.

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