sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Roupa de Baixo: filme recebe Coelho de Ouro pelo prêmio de melhor curta-metragem brasileiro.




Documentário produzido pela Lira Filmes narra à história de Suely, que nasceu homem, mas se assumiu mulher em uma cidade pequena do interior de São Paulo


Muitos daqueles que vivem em grandes metrópoles passam seus dias acreditando que a intolerância e o preconceito são batalhas vencidas em grande parte do mundo. Isso não passa de ilusão. Em comunidades mais afastadas, principalmente as de âmbito rural, a tradição ainda se confunde com preconceito.

Relatar essa realidade, e mostrar como ainda estamos longe de tempos mais iluminados é justamente a proposta do documentário curta-metragem Roupa de Baixo, produzido pela Lira Filmes. A obra conta a trajetória de Suely, e como ela passou a vida inteira sendo uma pessoa totalmente diferente do que seus vizinhos e familiares entendiam ou aceitavam. Por muitos anos, ela usou roupas de mulher por baixo das roupas de homem, até se assumir definitivamente como mulher.

O fato de viver em uma cidade do interior, ter um trabalho braçal dentro da zona rural, torna tudo muito mais complexo e difícil. Não há uma total compreensão dos familiares e moradores, existe uma falta de informação e esclarecimento em questões simples. Um exemplo disso é a exigência da apresentação de um RG que não representa a pessoa como ela realmente sabe que é. Suely não consegue trabalho, não é tratada como mulher (a chamam de “o” Suely). Existem diversas histórias e lendas sobre ela, ao invés de existir uma aceitação natural da decisão feita por ela.

O documentário teve sua estreia no 23º Festival Mix Brasil e recebeu o Coelho de Ouro pelo prêmio de melhor curta-metragem brasileiro, o Prêmio Canal Brasil de Curtas e ainda o Prêmio CTAV - Centro Técnico do Audiovisual da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.

Enredo - Nascido como Benedito Justo, a vida desse trabalhador braçal é contada através de depoimentos de seus familiares, e dos moradores da cidade de São Luiz de Paraitinga. O passado e a realidade, as dificuldades de se assumir como mulher no meio rural e em uma cidade pequena, é o foco do curta.

A proposta é contar a delicada e complexa história de Suely, com um olhar subjetivo e feminino. Ela, que nasceu ele, passou muitos anos usando roupas de mulher por baixo das roupas de homem, algo que se mistura à metáfora de que, conforme a própria Suely diz, o que conta é o que está por baixo, o de cima não vale nada. Ou seja, não importa se você nasceu em um corpo de um homem ou de uma mulher, o que importa é como você se sente por dentro, daí a inspiração para o nome do documentário. “A história dela nos revela os sofrimentos mais profundos de alguém que não se encontra em seu próprio corpo”, conta Juliana Lira, fundadora da Lira Filmes e produtora executiva do curta.

O filme propõe uma estética que mistura imagens realistas, fixas e claras, com planos oníricos, foco instável e momentos mais sombrios. A dualidade é constantemente apresentada ao longo das cenas, dialogando com a temática do curta e com as divergências entre as histórias dos depoentes.

Preconceito - Com tema polêmico e atual, a obra revela a realidade de muitos brasileiros. “A condição em locais afastados acaba sendo muito pior do que a condição nas metrópoles, porque soma-se ao preconceito, a dificuldade do acesso à informação”.

Roupa de Baixo retrata um problema que afeta centenas de pessoas ao redor de todo mundo: a dificuldade em ser aceito como é, com sua identidade de gênero correta. Somado a isso, ele levanta questões que levam a reflexões como a do acesso à informação, que permitem que a pessoa entenda que não é, ou está, errada por se sentir diferente, algo que muitos ainda não compreendem, principalmente em lugares onde não há tanta globalização de ideias.

A maneira como a história foi contada, longe de sensacionalismos e exposições desnecessárias, rendeu um grande feito. Foi a 1ª vez que o mesmo filme ganhou o Coelho de Ouro e o Prêmio Canal Brasil. O reconhecimento marca a entrada da Lira Filmes no segmento, já que esse é o primeiro curta da produtora e o primeiro curta documental dirigido por Lara Dezan. “Quisemos mostrar que as pessoas são muito mais profundas, que existem muito mais camadas do que apenas o que está por fora, em que corpo nascemos e como os outros nos veem. O que importa é o que está por dentro, o que temos por baixo”, conta a diretora.

Atualmente, Roupa de Baixo está concorrendo ao Grande Prêmio Canal Brasil e está sendo inscrito em outros festivais nacionais e internacionais.


Ficha técnica:

Título Curta-metragem: Roupa de Baixo

Nome oficial do filme em inglês: Underclothes

Cidade/Estado de produção: São Luiz do Paraitinga, SP

Ano: 2015

Duração: 13’40”

Produtora: Lira Filmes

Co-produção: Pontocom

Apoio: uPmix

Direção: Lara Dezan

Produção Executiva: Juliana Lira

Roteiro: Alexandre Gennari

Depoentes Documentário: Suely, Júlia, Dita, Antônia, Flávia, Fátima, João Ribeiro, Geraldo Tartaruga e José Afonso


Sobre a Lira Filmes:

A Lira Filmes é uma produtora especializada em publicidade, séries para TV, curtas e longas metragens, documentários e vídeos institucionais.


Sobre Lara Dezan:

Diretora de cena e roteirista da Lira Filmes, trabalha com séries, publicidade, institucionais, curtas e longas-metragens, desenvolvimento de projetos e direção de atores. Formada em Cinema, pela Universidade Federal Fluminense (RJ), também estudou História da Arte e Comunicação, na Université Nice Sophia Antipolis (França), e Artes Cênicas.


Fonte: Informa Mídia Comunicação, através de Leonardo Mota e Welton Ramos.

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