domingo, 1 de novembro de 2015

Crítica: Ponte dos espiões, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Se nos anos 80, o cinema americano retratava o seu poderio através dos heróis que nunca levavam um tiro (enquanto os outros países eram retratados como vilões estereotipados), foi a partir do final dos anos 90 que essa formula demonstrava sinais de que estava cada vez mais cansada e que estava mais do que na hora em dar espaço para heróis mais humanos, ou para produções em que retratavam passagens da história, em que os diálogos entre as nações prevaleciam como um todo. Filmes como 13 Dias que abalaram o mundo são bons exemplos de obras cinematográficas, das quais não se exigia tiros ou efeitos especiais, mas sim um retrato de um jogo político e uma abertura para a razão, em vez da ação. Sendo assim, Ponte dos Espiões é um retrato de uma época em que, as duas maiores potências do mundo (EUA e União Soviética) se digladiavam através de paranoia, propaganda enganosa e espionagem, mas nem por isso deixou de haver casos em que a razão prevaleceu.

Dirigido pelo mestre Steven Spielberg, acompanhamos a captura do espião russo Rudolf Abel (Mark Rylance, ótimo) em pleno território americano. Num primeiro momento acreditamos que ele se encontra perdido em meio à situação, mas o governo então decide lhe oferecer uma defesa através do advogado James Donovan (Tom Hanks). Ao mesmo tempo, um soldado americano é capturado pelos russos, assim como também um jovem americano é capturado em pleno momento em que o muro de Berlim esta sendo construído.

Sabendo no vespeiro em que estava se metendo, Spielberg não foi bobo em não querer retratar heróis ou vilões no decorrer da trama, mas sim pessoas comuns em meio a um período em que todos eram desconfiados um dos outros e que não podiam frear as mudanças rápidas que estavam acontecendo. As pessoas que usavam a razão se tornavam ineficazes perante o medo em que o próprio governo americano vendia, até mesmo nas escolas, a propaganda sobre o perigo da bomba atômica (através do curta Burt, a tartaruga). Sendo assim, o advogado Donovan se torna uma espécie de anomalia perante a sociedade americana quando aceita defender Abel, mesmo seguindo as leis de seu país de forma correta.

No momento em que acontece o encontro entre cliente e advogado, Spielberg foi engenhoso em retratar Rudolf Abel, como uma espécie de imagem pálida e cansada de uma época já esquecida, e o eficaz desempenho do seu interprete Mark Rylance sintetiza bem isso. Há uma espécie de luz da razão em torno de James Donovan (Hanks), na qual torna a situação de Abel menos desesperadora. Não é à toa, portanto que o cineasta usa a sua já conhecida fotografia iluminada no momento do encontro do advogado e do cliente numa sala fechada, mesmo num lugar que é inverossímil haver aquela iluminação toda. A partir deste ponto, acompanhamos a jornada James Donovan, um homem comum perante as duas potências, aonde o seu raciocínio e diálogo se tornam as suas melhores armas em meio ao jogo da política. Sendo assim, Tom Hanks cai então como uma luva para o personagem, pois os homens comuns em meio a situações desesperadoras fazem parte da filmografia do veterano ator. Spielberg, por sua vez, estabelece de uma vez por todas a sua fase mais madura de sua carreira e provando que histórias do nosso mundo real se tornam até mesmo muito mais fantásticas, do que as próprias que ele havia criado nos seus primeiros anos de carreira.

Embora já tenhamos uma noção de como a trama acaba (principalmente para quem acompanhou as notícias da época, sobre a troca de espiões), Spielberg é mestre em criar situações para incrementar o recheio, mas não de uma forma gratuita, e sim fazendo algum sentido na trama. Pequenas passagens da jornada de Donovan que, nem precisaria existir dentro da trama principal, mas que elas estão ali para simbolizar o período e os lugares em que ele se encontra: a cena em que ele tenta barganhar com uns rapazes para pegar uma rua em Berlim, ou quando ele vê o destino trágico de pessoas que tentam pular o famigerado muro daquela época (que irá se casar com uma cena simbólica no final do filme), são momentos curtos, porém, poderosos e simbólicos para dentro da trama.

Com uma reconstituição perfeita da época e com um final redondinho, para que os cinéfilos saiam da sala e se sintam reconfortados, Ponte dos Espiões é um filme para ser visto por todos, aonde mostra que, o diálogo e a tolerância, é muito mais eficaz, do que fecharmos os olhos e darmos o primeiro tiro.


Trailer

Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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