domingo, 17 de julho de 2016

Crítica: JULIETA, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Você está caminhando pela calçada, mas um casal está indo em direção a você. Você não desvia para o casal passar e, devido a isso, o casal sai da calçada e é atropelado por um carro que estava passando. Não foi intencional, mas logicamente você sentirá uma culpa, que talvez lhe persiga pelo resto da vida. Culpa e responsabilidade pelos seus atos, por vezes, são temas recorrentes em alguns dos melhores filmes de Pedro Almodóvar, que vai de ‘Carne Tremula’ a ‘Fale com Ela’. O universo feminino é um elemento que representou esses temas em seus filmes, e por possuir uma sensibilidade na criação de tramas como essa para o cinema, é sempre um prazer em ver que ele ainda não perdeu a mão em seu mais novo filme ‘Julieta’.

Na abertura conhecemos Julieta (Emma Suárez) mulher, aparentemente, bem sucedida, mas que no fundo guarda alguma tristeza. Após cruzar com alguém familiar do passado, ela descobre que sua filha, ao qual não vê há anos, está mais próxima do que imagina. A imagem de mulher forte dá lugar a uma pálida imagem daquilo que ela já foi um dia, mas ao mesmo tempo readquirindo o desejo de reencontrar a filha que amava. Baseado na obra da escritora canadense Alice Munro, o filme pode ser visto numa espécie de três atos, das quais a fotografia representa cada período dos personagens. De cores muito quentes do primeiro ato, o segundo vai demonstrando sinais de um universo menos colorido, para logo em seguida dar lugar a um terceiro ato de cores frias e representando o estado de espírito da protagonista. Interpretada pela atriz Emma Suárez no presente, sua personagem é movida pelo desejo, remorso e saudade, mas que só vamos compreender melhor esses sentimentos através dos flashbacks.

O filme retorna a 1985, onde vemos Julieta (agora interpretada por Adriana Ugarte), uma professora em busca de seus sonhos, mas que o destino criará outros planos para ela. Após uma situação imprevisível, do qual advém sua primeira culpa, ela conhece Xuan (Daniel Grao), futuro pai de sua única filha. Nesse primeiro ato, percebemos que Almodóvar visita, mesmo que rapidamente, um pouco do que já foi visto em seu filme Fale Com Ela, mas que, curiosamente, dá lugar a elementos inusitados que lembram até mesmo o clássico Rebecca de Hitchcock.

A relação de mãe e filha funciona graças à interpretação lúcida, porém forte da atriz Adriana Ugarte, que passa toda a força de vontade da personagem, mas ao mesmo tempo demonstrando uma fragilidade fora do comum, principalmente quando ocorre o segundo acontecimento que criará a sua segunda grande culpa.

As revelações que se destacam no terceiro ato ‘final da trama’, na realidade seriam uma metáfora que o cineasta incrementa, mas em forma de crítica com relação ao avanço do retrocesso e a força do conservadorismo que anda se manifestando, não só na Espanha, como também em outros países como o Brasil, por exemplo. E tudo funciona graças ao belo desempenho de todo o elenco principalmente de Adriana Ugarte e Emma Suárez sendo ambas ‘Julieta’. No decorrer do filme, acabamos tão envolvidos com os personagens, que mal nos damos conta da troca das atrizes para interpretar a protagonista e quando isso acontece à diferença de ambas é praticamente nula. Com pouco recurso, Almodóvar prova que não é preciso efeitos de rejuvenescimento ou de envelhecimento para criação de um personagem, basta um bom desempenho do interprete que isso se tornará mais do que convincente.

Com um final em aberto e levantando inúmeras interpretações com relação ao destino dos personagens, Julieta é puramente Almodóvar, onde ele coloca toda a sua sensibilidade na criação de um complexo universo feminino.


Trailer

Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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